Fechar o Twitter no Brasil é tudo que o Elon Musk quer


Bitsmag

Não acredite no teatrinho do bilionário, ele provocou Alexandre de Moraes de propósito, tudo calculado

O Twitter já está desligado no Brasil. Se pode usar VPN para assessar a rede, mas quem fizer isso poderá ser multado. Quem usar o VPN com o objetivo de burlar a proibição e acessar o X (Twitter) pode pagar até R$ 50 mil.

Isso era uma tragédia anunciada. Tragédia ou benesse para todos nós? Como eu conto abaixo, o Twitter é um depositário de ódio, racismo, neo nazismo e complôs para derrubar governos. Tudo isso afasta anunciantes. A empresa já estava muito mal financeiramente antes de Elon Musk se dar conta. Jack Dorsey é o fundador do Twitter e continua sendo um acionista depois da venda.

Estou no Twitter desde 2007. No início era mais uma conversa de amigos, eu participava bastante. No entanto eu não soube lidar com a abertura da minha bolha. Para me proteger, há muito tempo já havia me afastado de certos membros da família e amigos, desde os anos 90. Na internet não poderia ser diferente, como também no meu trabalho. No entanto acabei me prejudicando por não ter estômago para lidar com gente muito agressiva.

Eu coloco minhas posições abertamente, dentro da minha bolha posso fazer isso pois praticamente todos estão do meu lado. Enfim, deixei de entrar no Twitter em 2016, na época do golpe contra a Dilma.

Notei que havia muita falcatrua nas redes que agora usam algoritmo e o Twitter se gabava de não usar. Na verdade desde 2010, quando o Facebook adotou a primeira versão de algoritmo, eu percebi que tudo ia mudar. Não era mais rede social. Não lido com isso com revolta. As redes são empresas que precisam arcar com milhares de custos: pessoal, impostos, hardware e software em constante manutenção e desenvolvimento. Não teria porque funcionar grátis. Estava claro para mim naquele momento que rede social é um péssimo negócio.

Em 2017 veio o escândalo da Cambridge Analytica no Facebook. O Twitter se mantinha sem adotar algoritmo, mas só quem tinha visibilidade eram os que entravam em assuntos polêmicos, principalmente de política. Continua assim. Abandonei as duas redes.

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Desde 2001 tenho meu próprio website, o Bitsmag. Trabalho na internet brasileira desde 1996. A partir de 1997 ajudei o portal Terra a existir. Até 2000 chamava-se ZAZ e pertencia ao grupo RBS do Rio Grande do Sul.

Criei a coluna Bits da Madrugada, sobre vida noturna, em 1997 e, em 2001, o nasceu o site Bitsmag. Como webmaster/editora de um site voltado de início para a cultura da música eletrônica, eu tinha muita audiência enquanto estava inserida no programa de parcerias do Terra. O segredo era ter chamada/link na capa do portal. Funcionava enquanto eu tinha uma comunicação fácil com os jornalistas da redação e trânsito com os editores da capa. Eles colocavam muitas chamadas para o Bitsmag. Mas eles foram saindo da empresa e o Terra foi mudando, não me davam mais chamadas na capa, a não ser que eu fizesse algo apelativo, o que era conflitante com a natureza de um site de nicho. As páginas internas de cultura e entretenimento não levam ninguém para os sites parceiros, não tem visibilidade nenhuma.

Quando saí dessa parceria consegui uma outra num portal mais novo, o IBest e ia bem, até que esse portal deixou de existir. Era a época da derrocada das dot.com, muitas empresas fecharam.

Bitsmag existe pela força do meu newsletter, o qual até hoje tem assinantes me apoiando desde 1998 quando criei a coluna Bits da Madrugada.

Mas em meados dos anos 2000 eu modifiquei o Bitsmag num movimento de inserir mais conteúdos culturais de outras pautas, como cinema, TV, moda e artes plásticas. Nessa época minha concorrência eram os blogs que explodiram entre 2000 e 2010.

Sobrevivi levando o Bitsmag no que eu chamo de “ponto morto”. Ao invés de expandir eu enxuguei a operação, não emprego colaboradores, não aceito permutas de produção de conteúdo, por conta de experiências anteriores muito ruins. Foi quando eu entendi de que se trata contrato com funcionário/jornalista que prevê cláusula de não competição e cláusula de confidencialidade. Eu não tinha dinheiro para contratar ninguém com essas condições, esse nível de exclusividade e sem isso não quero. O funcionário fica um tempo comigo, entende todo o funcionamento e vai para a concorrência.

No meu caso era uma concorrência de gente que não tinha um tostão mas usava sua influência para chantagear colaboradores, promotores de festas, donos de casas noturnas brasileiras e DJs. Pessoas muito mau caráter dominando uma lista de emails que era enviada a todos que a assinassem e reenviada para todos com respostas. Uma pré-rede social que tinha muito engajamento, pois foi pioneira no meio da vida noturna brasileira. Os próprios administradores postavam informações e fofocas com nomes fictícios e usuários paus mandados, destruíam e faziam carreira de pessoas de acordo com seus próprios interesses. Era uma verdadeira desgraça no meio, um prenúncio do que se tornariam as redes sociais hoje que cancelam pessoas de forma brutal. Durante uma boa década eles reinaram o reino do mal no mundo das boates e DJs no Brasil, mas foram eclipsados pelas redes sociais e o site que chegaram a manter com funcionários vindos de outros sites seguiu seu fracasso.

Claro que entrei no Orkut em 2003. Entrei também no Fotolog que foi o que mais gostei e a única rede que me proporcionou novos amigos que saíram do virtual e foram para a vida real.

E entrei no Facebook em 2007, quando ainda não tinha quase nenhum brasileiro. Não tinha graça nenhuma não ter com quem conversar. O Facebook sempre foi voltado para a bolha do usuário, ao contrário do Twitter, mesmo antes de adotar o algoritmo em 2010. Se na bolha não tem ninguém a pessoa não conversa com ninguém. No final de 2008 os brasileiros começaram a entrar nessa rede social.

O público promotor de festas e os DJs tiveram sua melhor fase de crescimento na rede a partir de 2008, mas o algoritmo depois começou a prejudicar. Não adianta ter uma página com 12 mil fãs, como o Bitsmag tinha no Facebook, se nem 100 pessoas recebem os seus posts.

Eu me desiludi com redes sociais, teve uma época que até tentei fazer uma rede dentro do Bitsmag, mas não tive muita convicção nesse tipo de negócio. Pena que demorou tanto para o mundo entender que rede social nos moldes de Facebook, Twitter, o antigo Orkut que ameaça voltar, e outros menores não oferecem benefício para o usuário e não são realmente empresas que possam se manter, seja com anúncios ou com assinaturas. Os grandes estão tentando, aparentemente não conseguem.

Jack Dorsey do Twitter, conseguiu manter a sua rede sem algoritmo, mas a profusão de processos e pressão de todos os lados para censurar a rede afastava os anunciantes.

Em 2022 Elon Musk se interessou em comprar o Twitter, o que Dorsey deve ter rezado muito para acontecer… Mas quando ele viu a situação por dentro da empresa tentou desistir da compra. No final Elon Musk foi obrigado de forma legal a concluir a aquisição. Os 44 bilhões de dólares usados na compra obviamente não são totalmente de Elon Musk, é um pool de investidores do qual fazem parte alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos como o Morgan Stanley, o Bank of America e o Barclays. E Jack Dorsey continua tendo uma grande porcentagem de ações. A pressão interna é enorme para tornar a empresa lucrativa.

Assim que Elon Musk assumiu o cargo de CEO do Twitter foram centenas de demissões, mais anunciantes fugindo da plataforma bem como cerca de 23% dos usuários. O Twitter está morrendo e não é culpa do Elon Musk, ele só está acelerando o processo e se queimando muito no mundo dos negócios. Jack Dorsey sai de “herói”, abriu outra rede, diz ele que nunca terá algoritmo, mas já se afastou do Bluesky em 2024.

Há muito a ser analisado sobre rede social como negócio. Eu particularmente não acredito em rede social se tornando negócio lucrativo. Não vejo como fugir do discurso extremista e não vejo como manter assinaturas e assinantes num ambiente de extremismo. Também não vejo hoje como poderiam as redes funcionarem sem algoritmo que restringe e direciona posts.

Bem, o que que queria dizer desde o início? Essa pendenga com Alexandre Moraes ajuda muito o Musk e não é por suas convicções políticas. Ajuda Musk a ter motivo para fechar escritório e demitir centenas de funcionários, passo para ir acabando com a operação. Acaba hoje no Brasil, depois ele vai arrumar outra confusão para ir fechando a empresa em outros países.

Vai fazer muito teatrinho em favor da “liberdade de expressão”, mas no final ele vai fechar tudo e acabar de vez com o Twitter, no mundo todo.

Só tenho uma certeza: o Twitter (que nunca teve uma estratégia de rebranding para X) está morrendo mesmo. Better sooner than later… Quem não entendeu o que eu disse procure no Google, use a internet para aprender alguma coisa… Houve um tempo na internet que ela servia para aumentar o conhecimento, hoje existe para diminuir…

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