Rapper é alvo de mais de 100 processos
(atualizado em 15/11/2021)
Enquanto no Brasil lamentávamos o acidente e a morte de Marília Mendonça, no último final de semana os americanos também viviam uma tragédia no mundo da música. Na sexta, 5 de novembro de 2021, aconteceu na cidade americana de Houston, no estado do Texas, o festival de rap e hiphop Astroworld. Produzido e estrelado por Travis Scott, o evento se tornou um caos com dez mortos e muitos feridos, alguns em estado grave. Oito morreram no local e dois morreram nas duas semanas que se seguiram ao evento.
Produzido pela Live Nation, empresa que faz eventos no mundo todo, inclusive no Brasil, o festival se mostrou absolutamente ineficaz no sentido de conter invasões de pessoas sem ingresso. Já no início da tarde o espaço NRG foi invadido por centenas, ou milhares de pessoas que derrubaram as fraquíssimas grades que envolviam o parque.
Em várias imagens postadas nas redes sociais se vê não só a fragilidade dessas barreiras, como a inexistência de equipes de segurança para conter os invasores. O staff era de adolescentes e jovens freelancer, sem nenhum preparo ou treinamento para enfrentar esse tipo de problema, comum em eventos desse porte.
Com a lotação pra lá de esgotada, mais os invasores, o espaço ficou impraticável. O evento tinha mais de um palco durante o dia, mas na hora do show de Travis Scott os outros palcos foram fechados e todo o público que estava no espaço NRG se dirigiu para a frente do palco principal.
Havia mais de 60 mil pessoas no local, quase todos na frente do palco que tinha uma plataforma em L avançando pela área do público.
Quando Travis Scott pisou no palco o público começou a avançar para se aproximar e foi então que se instalou o caos. Não só havia gente demais, como o desenho em L da plataforma criava uma armadilha para quem pretendia se esquivar, ou sair.
Muitas pessoas desmaiaram, caíram e foram pisoteadas pela massa de gente. Enquanto esse inferno acontecia na multidão, no palco Travis Scott seguia com seu show, alheio ao fato de que pessoas estavam morrendo na platéia.
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Por alguns momentos o artista parou o show, mas não parou por completo.
Entre os mortos havia três menores de idade, um garoto de 14 anos, uma menina de 16 e um garoto de 9 anos que ficou uma semana no hospital. Os outros tinham em torno de 20 anos. Uma moça morreu no hospital, dias depois.
Policiais que estiveram no local lidando com vítimas disseram que havia alguém com seringas injetando droga no pescoço das pessoas.
Como não poderia deixar de ser, a internet está fervendo desde os primeiros relatos sobre a tragédia. Já existem estapafúrdias teorias da conspiração.
A produtora Live Nation, a polícia, o corpo de bombeiros e a prefeitura de Houston, todos estão apontando culpados.
Travis Scott, Drake, Kylie Jenner, namorada e mãe da filha de Travis, todos publicaram pedidos de desculpas e pêsames pelos mortos em suas redes sociais. Drake fez uma participação breve no show, bem no momento em que ocorriam as mortes na platéia.
Travis Scott se comprometeu a pagar todas as despesas funerárias dos mortos no evento.
A verdade é que não houve apenas um culpado da tragédia. A produtora Live Nation falhou em inúmeros quesitos. Não montou uma proteção eficaz em volta do evento para evitar as invasões, comuns em qualquer tipo de show no mundo inteiro. A empresa também é responsável por ter criado um desenho de palco, plataforma de câmeras e área VIP que criou armadilhas na multidão prejudicando a evacuação do público, o acesso das ambulâncias e a remoção dos feridos. A equipe de produção não pareceu capacitada para lidar com segurança e apoio ao público. Faltou treinamento e supervisão dessa equipe.
A polícia, o corpo de bombeiros e a prefeitura da cidade de Houston são culpados por não terem feito a vistoria prévia necessária. Era óbvio que as grades eram muito frágeis em volta do parque e o evento ia ser invadido. Um evento que estava com os ingressos esgotados desde o início do ano, quando foram colocados à venda. Não fizeram vistoria e também não tinham esquema tático para agir em caso de problemas.
Travis Scott é um dos produtores do evento e também responde como tal, além de ser o artista principal no elenco. Ele deveria ter terminado o show imediatamente, logo que viu ambulâncias no meio da platéia. Scott alega que só soube da gravidade da situação muitas horas depois do término do show.
Mais de 60 processos já estão sendo movidos contra Travis Scott e todos os outros envolvidos na produção, além da polícia e a cidade de Houston. Até Drake, apenas um convidado especial do show, está sendo arrolado em alguns processos.
Travis Scott está sendo cortado de vários elencos de shows que já estavam agendados. Existe a possibilidade de ser cortado do evento Coachella 2022, onde ele é o headliner em um dos dias do evento.
A verdade é que o artista é conhecido por incitar comportamentos subversivos. É de praxe o público fazer mosh pit e crowd surfing em seus shows, práticas muito encorajadas por ele o qual, por sua vez, se joga no público (stage diving). Nada disso é exclusividade dos shows desse artista, mas Travis acabou criando uma marca registrada incitando essas práticas. No especial da Netflix Travis Scott: Look Mom I Can Fly isso fica bem evidente.
Em 2015 Travis Scott foi preso em Chicago, durante o evento Lollapalooza. Travis estava incitando o público a invadir o palco. O show foi imediatamente interditado pela polícia e o artista foi preso ali mesmo e levado para a delegacia.
Faz parte do folclore de Travis Scott incitar esse tipo de comportamento, mas não é só ele. O mosh pit vem da época das primeiras bandas punk, nos anos 70 e hoje em qualquer show de rock ou hiphop é possível que aconteça. Até mesmo em shows de outros tipos de música mais leve, o mosh pit e o crowd surfing acontecem.
O problema é que no Astroworld a lotação e o desenho da plataforma instalada no meio do público transformaram a atividade em uma brincadeira fatal. Na verdade não se sabe se a debandada no platéia aconteceu por conta de mosh pit, ou se foi mesmo a questão da super lotação que fez com que todos disputassem um pequeno espaço no gramado.
De uma forma ou de outra, a popularidade gigante de Travis Scott não permite mais que ele se conecte dessa maneira com seu público nos shows.
O rapper que inaugurou a participação de artistas no metaverso, com seu show sendo emitido dentro do jogo Fortnite, chegou a atingir 14 milhões de pessoas na plataforma da Epic Games, em abril de 2020. Contando ainda com a emissão conjunta do show no YouTube e no Twitch, essa audiência passa de 16 milhões de pessoas no mundo todo.
O grau de popularidade do artista, ligado a Kylie Jenner, uma das maiores influenciadoras do mundo, o fez maior do que ele próprio pode imaginar.
Resta saber o quanto a tragédia do Astroworld em Houston vai interferir no futuro do rapper.
Além dos shows cancelados ele está perdendo vários patrocínios. A nova coleção masculina da grife Dior é estrelada por ele e a empresa está avaliando o que vai fazer com a campanha.
O tribunal da internet continua em chamas e Travis Scott está pra lá de cancelado. Os processos remontam a bilhões de dólares. Será que ele vai conseguir se reerguer depois dessa tragédia?