Cartrain x Damien Hirst


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Grafiteiro adolescente dá muita dor de cabeça a Damien Hirst questionando o milionário mercado de artes plásticas e a questão dos direitos autorais

Ele vai na esteira do semi anônimo Banksy. Cartrain, um grafiteiro adolescente britânico, tem enfurecido o artista multi milionário Damien Hirst em disputa que chegou a envolver a Scotland Yard.

Cartrain usou a famosa e icônica imagem da obra For The Love Of God, de Damien Hirst, em uma série de colagens que foram colocadas à venda na internet. For The Love Of God é a famosa caveira cravejada de brilhantes, obra recente do ganhador do Turner Prize que, logo antes do estouro da crise econômica, em 2008, leiloou suas obras a preços exorbitantes e jamais vistos em obras de arte de artistas vivos.

Apelando para as leis de direito autoral Hirst moveu ação contra Cartrain pedindo que o jovem se desculpasse publicamente e que entregasse todas as colagens que tivessem a imagem da caveira, que estavam à venda no site do galerista Tom Cuthbert, 100artworks.com.

Cartrain acatou mas não se aquietou.  Em julho de 2009 o jovem artista foi à Tate Modern e roubou parte da instalação Pharmacy, de Damien Hirst. A obra tinha uma caixa de lápis Faber Castell Mongol 482s, datada de 1990, que foi roubada por Cartrain. No mesmo dia ele criou um poster estilo “procurado” com a seguinte legenda: “Para que os lápis de Damien Hirst sejam devolvidos em segurança, eu gostaria que fossem devolvidos meus trabalhos, que foram confiscados pela DACS (Design and Artists Copyright Society) e por Hirst em novembro. Não é um pedido tão difícil de atender. Hirst tem até o final do mês para resolver isso ou no dia 31 de julho os lápis serão apontados. Ele está avisado”

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As questões que ficam desse imbróglio são as que permeiam as maiores divagações das artes na atualidade: o preço de uma obra de arte e a questão dos direitos autorais. Quanto custa a caixa de lápis que faz parte da obra de Damien Hirst? Cartrain tinha direito ou não de usar e modificar uma imagem criada anteriormente por outro artista?

Semanas após o roubo da caixa de lápis, agentes do Departamento de Arte e Antiguidades da Scotland Yard apareceram com uma ordem de prisão para Cartrain. A queixa? Danos a uma obra pública no valor de 10 milhões de libras e o roubo de uma caixa de lápis de 500 mil libras. Cartrain hoje está livre mediante o pagamento de uma fiança.

O jovem artista não está só em seu intento de desmascarar os novos milionários das artes plásticas. Um grupo de artistas chamado Red Rag To A Bull, que faz campanha contra o alto controle de direitos autorais, criou suas próprias obras de arte baseadas na escultura da caveira cravejada de brilhantes de Damien Hirst e as vendeu na internet para angariar fundos e ajudar Cartrain a se defender contra as ações judiciais.

Entre os artistas do grupo Red Rag To A Bull está James Cauty, do duo pop dos anos 80 KLF (Kopyright Liberation Front), que ficou conhecido por seus samples não autorizados do grupo ABBA e por queimar 1 milhão de libras de lucros da banda numa manifestação contra a indústria da música. James Cauty também foi produtor de sucesso ao lado de Alex Paterson no The Orb, que remixou músicas de diversos artistas nos anos 90.

O jovem artista e caricaturista Cartrain conseguiu colocar muito bem a polêmica sobre o pretencioso, suntuoso e inacreditável sistema de mercado para obras de arte. Ao mesmo tempo se tornou conhecido às custas de Damien Hirst, além de expor o milionário artista britânico ao ridículo.

Cartrain não é o primeiro a ironizar Damien Hirst. O artista plástico espanhol Eugênio Merino apresentou a instalação For The Love Of Gold, também parodiando o artista, na feira ARCO de Madri, em 2009.

Confira abaixo uma entrevista de um site canadense com o grafiteiro Cartrain:

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