Arte e badalação na maior feira de arte dos Estados Unidos
Foi realmente uma maratona a semana de arte que acabou de acontecer em Miami, a capital da America Latina. Em sua décima quarta edição o evento Art Basel Miami, hoje a maior feira de arte dos Estados Unidos, trouxe à cidade, conhecida pela predominância da população latina e pela diversão praiana, uma credibilidade cultural surpreendente e absolutamente saudável que está ajudando a renovar sua imagem. A Art Basel Miami é não só a maior feira de arte dos Estados Unidos como também o maior evento social do país.
Seguindo o conceito da nave mãe, a Art Basel suiça, a grande feira, essa sim a maior do mundo, o evento da Flórida gera diversas feiras satélite que acontecem ao mesmo tempo e Miami vive e respira arte por suas ruas, hotéis, restaurantes e casas noturnas. Grandes colecionadores de arte, curadores, artistas, celebridades e uma boa parcela do show business, de Leonardo Di Caprio a Zoe Kravitz, passando por Miley Cyrus e Paris Hilton, além de bons nomes das pistas de dança como James Murphy, James Blake e FKA Twigs transformaram a cidade na capital cultural dos Estados Unidos por uma semana, em dezembro.
A feira tem como maior finalidade o comércio, mas o evento proporciona também programações adjacentes, painéis e debates, grade de filmes e videoarte, além de performance, shows e balé. Sendo assim Tim Burton fez uma pré-estreia de seu novíssimo filme, Big Eyes, estrelado por Amy Adams e Christoph Waltz, como parte do programa de filmes e videoarte.
Debates e painéis proporcionaram uma aproximação do público com grandes nomes das artes plásticas como Julian Schnabel, Rirkrit Tiravanija e Marina Abramovic que apresentou na feira uma instalação interativa e promoveu também na cidade, na escola de Belas Artes Young Arts, um exercício monitorado de sua técnica de performance. A “Caminhada em Câmera Lenta” podia ser realizada com o acompanhamento da artista performática Brittany Bailey que faz parte da troupe de Abramovic.
A maioria das galerias participantes da Art Basel em 2014 veio de N.Iorque, desde as grandes como a onipresente Gagosian, como espaços menores e bem conceituais. Já o Brasil foi o país da America Latina que teve a maior representação de galerias no evento. A arte brasileira esteve muito presente não só nas galerias nacionais como também nas internacionais como é o caso de Os Gêmeos que tiveram obra exposta no espaço da Lehmann Maupin, galeria que representa também Adriana Varejão. Beatriz Milhazes não só teve obras comercializadas em mais de uma galeria da Art Basel Miami, como sua maior retrospectiva já feita nos Estados Unidos está em cartaz até janeiro no Péres Art Museum de Miami.
A abertura restrita a convidados aconteceu na manhã de quarta, 3 de dezembro e reuniu a nata de colecionadores mundiais que tiveram acesso às melhores obras nas primeiras horas da feira, como é de praxe com compradores VIP.
South Beach e Wynwood, o distrito de arte de Miami, reuniram a maior concentração de feiras e eventos paralelos à Art Basel. Em South Beach, na areia da praia, uma tenda abrigou a feira Scope com predominância de arte lowbrow. Já a feira NADA, de um coletivo de marchandes novaiorquinos, levou ao resort Deauville, ao norte de Miami Beach, uma bela amostragem de artistas novos e relevantes com propostas conceituais.
Perto da NADA acontecia também a feira Select que teve como porta-voz o rapper Usher e teria ainda a curadoria musical de Solange Knowles que acabou decepcionando a organização cancelando sua participação no dia da estreia. Ainda assim o evento apresentou performances interessantes e boas atrações musicais como o rapper Vic Mensa, de Chicago.
Wynwood aglutinou o público que se interessa por arte de rua em suas lojas, galerias, bares e restaurantes que ficaram abertos até altas horas da noite nos dias da Art Basel. O bairro se solidificou como a região de maior expressão artística da cidade e ofereceu ao público um verdadeiro carnaval artístico, com manifestações de toda ordem.
Quem diria, a cidade que ficou famosa pelo filme Scarface, a história de um bandido cubano refugiado nos Estados Unidos, hoje reúne a porção mais nobre da cultura e do show business norte americano. Quem te viu, quem te vê…
Alheios à programação artística durante a feira Art Basel, uma boa parcela de turistas brasileiros, assíduos em Miami, acumulam como podem suas numerosas aquisições nos outlets da cidade. Pelo menos a enorme receita que esses brasileiros deixam em forma de impostos está sendo utilizada em algo louvável. A cidade que um dia já foi motivo de chacota é hoje uma capital de arte e cultura.