Andy Blake: Dono do selo Dissident tocou no Rio e em São Paulo – leia entrevista e ouça o set do DJ que rolou na festa do Bitsmag em fevereiro
Dono do selo Dissident tocou no Rio e em São Paulo – leia entrevista e ouça o set do DJ que rolou na festa do Bitsmag em fevereiro
O britânico Andy Blake, DJ, dono do respeitadíssimo e cultuado selo Dissident, é o convidado internacional em fevereiro da festa Comiskey Park de Renato Cohen, no clube Hot Hot. Andy e Renato se apresentam também no Rio, na festa Clap!, dia 4 de fevereiro.
O selo Dissident, de Andy Blake, em seus dois anos de existência, lançou cerca de 60 artistas de nu disco, balearic e cosmic e também de outros estilos musicais. Completamente avesso ao MP3, Blake trabalhou com vinyl principalmente, lançando também algumas coletâneas em CD. Com a reputação de se manter elusivo, o selo Dissident em tão pouco tempo de existência, se tornou antológico, como um acervo de boa música, difícil de encontrar. O DJ é um dos preferidos numa cena vibrante que se forma agora em Londres e na Europa em geral, com uma variedade enorme de pequenas festas e clubes underground, onde a nova música das pistas tem se revelado.
Andy Blake respondeu algumas perguntas do Bitsmag:
Bitsmag: Existe uma nova cena noturna em Londres, vibrante, com vários espaços underground. Fale um pouco sobre essas festas onde você tem tocado recentemente.
Andy Blake: Ultimamente tenho tocado mais na Europa do que em Londres especificamente, e tenho sorte de poder tocar em festas bem legais e com um perfil musical variado. Acabo de voltar da Escandinávia onde toquei numa noite techno e house no Villa, em Oslo, com meu amigo Oyvind Morken, um DJ norueguês brilhante que dirige o selo Luna Flicks. A festa bombou e a pista ferveu até o final. Na noite seguinte toquei um long set de quatro horas numa noite chamada Rimini, num DJ bar famoso chamado Tranam, em Estocolmo.
No momento minhas festas favoritas em Londres são a minha própria noite, a World Unknown, onde tocamos new beat, dark euro, synth wave e pós punk, além de uma noite semanal, chamada Calígula. Toquei lá algumas semanas atrás e foi muito divertido, com uma vibe brilhante de festa. Toquei todo tipo de coisa, do house ao techno, do disco às faixas afro, além de euro synth pop, e o público é ótimo, uma mistura de gente da noite, modelos, travestis, club kids e o lendário “homem pelado de Londres” – ele não fica completamente pelado na verdade, já que ele fica de sapatos…
Bitsmag: Porque você resolveu fundar o selo Dissident?
Andy Blake: Pela mais simples das razões: meus amigos estavam fazendo ótimas músicas e eu queria lançá-las.
Bitsmag: Porque você nunca lançou faixas em formato digital pelo selo Dissident?
Andy Blake: Na verdade eu não gosto de MP3. Acho que o som fica frio e sem qualidade quando tocado em sistemas grandes de som. E acho que os downloads são nocivos de várias formas para a cultura da música em geral. Sei que as coisas mudaram muito recentemente, mas o download digital acabou com uma coisa muito legal que era o hábito das pessoas de irem às lojas de discos para procurar música nova, prática que tem um efeito tão positivo e evolutivo de tantas formas diferentes. Talvez o pêndulo balance novamente para o outro lado, fico com os dedos cruzados para que isso aconteça.
Bitsmag: Tinha um estilo musical específico que você queria trabalhar no Dissident?
Andy Blake: Não havia. Tenho um gosto musical bastante abrangente e aberto, então qualquer tipo de música pode ser o próximo lançamento. No entanto o selo parece que desenvolveu um som, um tipo de vibe de certa forma pesada e ao mesmo tempo ambiente de electronica análoga, com momentos ocasionais mais leves. É engraçado que as pessoas vêm o Dissident como um selo disco, quando na verdade é mais uma coisa freestyle techno. Era estranho ver as pessoas nas lojas descrevendo faixas pesadas de techno como um tipo de disco em mutação, quando na verdade não tinha nada a ver com disco.
Bitsmag: Como você comercializava seus lançamentos?
Andy Blake: Tudo que eu fazia era avisar as lojas e distribuidores sobre os novos lançamentos e o resto acontecia naturalmente.
Bitsmag: Você produz música ou toca instrumentos?
Andy Blake: Sim, eu produzo minha própria música com amigos. Tenho um estúdio análogo onde crio música sem computadores, usando sequenciadores para controlar tudo. Não toco instrumentos no sentido tradicional, eu programo sequências e ritmos em meus vários sintetizadores e baterias eletrônicas, e trabalho na mesa num estilo live techno/dub. Eu gosto do ar de caos potencial e de improvisação espontânea que surge desso modo de trabalhar.
Bitsmag: Seu selo é conhecido (e respeitado) por DJs brasileiros e nós estamos do outro lado do Atlântico. Como você acha que conseguiu isso, já que você não se preocupou muito com práticas tradicionais de marketing?
Andy Blake: Sempre achei que nossa música ia achar seu caminho até as pessoas que quisessem ouví-la e estavam dispostas a fazer um mínimo de esforço para achá-la. É legal ver as coisas acontecerem dessa maneira.
Bitsmag: Quais são os lançamentos mais procurados do selo Dissident?
Andy Blake: Você precisa checar no Discogs para ver qual é o mais caro no momento, e isso muda o tempo todo. O engraçado foi ver que alguns dos lançamentos que ficaram mais populares, vendo em retrospecto, foram os que vendiam menos quando acabavam de sair.
Bitsmag: Você tem alguma idéia da nossa vida noturna aqui no Brasil?
Andy Blake: O que eu sei é que as pessoas que conheço do Brasil, e meus amigos DJs que já tocaram em clubes brasileiros, todos dizem que os clubbers são bastante abertos em relação à música e se divertem muito nas festas e isso parece absolutamente perfeito pra mim.
Ouça o set de Andy Blake da festa do Bitsmag, em fevereiro:
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