Carandiru


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Presídio e episódio sangrento são temas do filme de Hector Babenco

Um dos episódios mais sangrentos e vergonhosos da história brasileira, o Massacre do Carandirú, presídio paulistano que foi destivado e implodido em 2002, move organizações de direitos humanos no país e no exterior, políticos e a opinião pública.

Em 1999 o médico oncologista Dráuzio Varella lançou o livro Estação Carandirú, um relato de sua experiência como médico da instituição, mostrando seu olhar imparcial e seu ponto de vista humanista, que não condena e vê com piedade a vida em condições sub-humanas num presídio com lotação esgotada, onde deveriam estar 3 mil, mas existiam mais de 7 mil. O médico realizou, durante anos, um trabalho de prevenção da Aids no presídio. Estação Carandirú é recorde de vendas, um “best seller” absoluto. Apesar de ser definido como obra de ficção pelo autor, o livro consta da lista dos mais vendidos, desde seu lançamento, na categoria “não-ficção”.

Com distribuição da Sony Classics, o filme Carandiru, de Hector Babenco, é baseado no livro do amigo e médico particular Dráuzio Varella. Da mesma forma o filme, de estética documental, é definido pelo diretor como obra de ficção e, mesmo baseado no livro de Dráuzio Varella, apresenta personagens ficcionais.

Filme e livro mostram o cotidiano da Casa de Detenção do Carandirú, culminando com o massacre. Tanto livro quanto filme não esclarecem os fatos de um capítulo tão importante quanto revoltante da história brasileira. Nenhum nome de político ou policial militar é citado, tanto no filme quanto no livro.

O Massacre do Carandirú aconteceu no dia 2 de outubro de 1992, véspera de eleições municipais. Houve um motim de presos, iniciado não de forma organizada, mas a partir de uma briga entre detentos. A polícia militar de São Paulo foi acionada para neutralizar ânimos mas a situação não foi controlada de forma amena. Cerca de 350 policiais militares, entre eles oficiais do GATE e da ROTA, divisões especiais que só deveriam ser acionadas em casos extremos, entraram duramente no presídio e balearam a esmo os detentos que estavam desarmados ou portando armas “brancas” como pedras, estiletes ou canivetes. O saldo foi de 111 presidiários mortos, num banho de sangue executado com requintes de crueldade, com relatos de tortura e humilhação, onde presos nús foram encurralados em suas celas, outros obrigados a carregar os cadáveres dos companheiros mortos e ainda um corredor polonês. Nenhum policial militar morreu na operação. Além dos 111 presidiários mortos, mais de 100 ficaram feridos.

O coronel Ubiratan foi julgado e condenado a 632 anos de cadeia, mas acabou cumprindo parte da pena em liberdad. Após o julgamento a defesa do coronel entrou com pedido de anulação do julgamento. Em 2006 o coronel foi assassinado.

Além dele foram responsabilizados o secretário da Segurança Pública Pedro Franco de Campos, que é procurador da justiça. Campos foi inocentado em todos os processos. O Coronel Antonio Chiari, comandante da tropa da ROTA, o Major Wanderley Mascarenhas, que chefiava a equipe do GATE, o Tenente-coronel Edson Faroro, que chefiava o 2° Batalhão de Choque, o Tenente-coronel Luiz Nakaharada e o major Valter Alves Mendonça aguardam julgamento e estão em liberdade. São diversos processos, na justiça militar e na justiça comum, alguns movidos pelas famílias dos mortos.

Apenas duas vítimas (ou suas famílias) receberam indenização por danos morais.

Dia 8 de dezembro de 2002 o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, comandou a implosão do complexo do Carandirú. No lugar do presídio, que existia desde 1956, foi construído um complexo de lazer e cultura, denominado Parque da Juventude.

Confira matérias da Folha de São Paulo sobre o caso Carandirú

Confira imagens impressionantes do Massacre do Carandirú (Galeria de Imagens da Folha Online)

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