Confira entrevista com Kate Purdy, criadora do seriado
Acaba de estrear no Prime Vídeo a nova temporada de Undone. A série, criada pelos aclamados produtores e escritores Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg (Bojack Horseman), tem episódios de meia hora explorando a natureza elástica da realidade através de sua personagem principal, Alma.
As primeiras imagens da segunda temporada da “dramédia” Undone, haviam sido lançadas no festival South by Southwest, em março de 2022. O seriado, sucesso de crítica, usa a técnica de animação rotoscope para mostrar uma narrativa que lida com questões de saúde mental, religiosidade e misticismo e ao mesmo tempo conta uma história com graça e realismo.
Alma é interpretada pela ótima Rosa Salazar. Ela vive em San Antonio, cidade do sul do Texas, com sua mãe, Camila (Constance Marie), e a irmã Becca (Angelique Cabral). Após sofrer um acidente de carro e quase morrer, Alma descobre uma nova relação com o tempo. Ela desenvolve essa nova habilidade e a usa para tentar desvendar a verdade sobre a morte de seu pai, Jacob (Bob Odenkirk).
Nesta segunda temporada Alma descobre mistérios ainda mais profundos no passado de sua família. No entanto ninguém quer acompanhá-la nessa jornada que ela percorreu na primeira temporada, confundindo seus familiares e namorado que estavam convencidos de que a personagem não estaria lidando bem com uma doença mental.
Finalmente Alma consegue o apoio da irmã Becca que passa a fazer parte da jornada de autoconhecimento de Alma. Elas descobrem e refletem sobre muitas crenças, tradições místicas e religião que elas usam para desvendar uma rede de memórias e motivações que fazem parte da construção de suas vidas e alma. Elas acreditam que essa jornada vai curar seus traumas familiares e melhorar suas vidas.
A animação em rotoscope combina atores com computação gráfica e nunca havia sido usada em série, somente em filmes. O resultado é muito interessante e se encaixa perfeitamente na premissa do seriado.
Conversei com uma das criadores da série, Kate Purdy, que falou um pouco sobre a universalidade do misticismo e da religião em Undone.
(Beth Ferreira) Undone é uma série que trata de assuntos religiosos, ou místicos e esta série é exibida em todo o mundo, em países muito diferentes. Eu gostaria de perguntar como você acha que o público religioso, de crenças diferentes, de países místicos como o Brasil, pode interpretar a premissa principal de Undone?
(Kate Purdy) O que acho interessante em Undone é que fazemos muitas perguntas e não necessariamente dizemos às pessoas o que pensar, ou o que é verdade. Estamos explorando a ideia de realidade e percepções da realidade, então até o público vem trazendo sua própria percepção. A partir de sua experiência ou de suas crenças, eles podem interpretar o show através de suas lentes da realidade. Talvez eles tenham uma conversa com alguém que vivenciou de forma diferente e isso cria uma nova conversa e uma nova discussão. E talvez haja alguma empatia: “meu Deus, eu vi a mesma coisa que você viu, mas vimos versões diferentes”. Essa percepção traz um pouco mais de humanidade para a discussão, não apenas a discórdia.
Todos nós temos experiências e estamos todos experimentando a realidade a cada momento em que estamos interagindo com outros humanos e o mundo ao nosso redor. Quando você estuda xamanismo ou misticismo, esses tipos de conhecimento tradicional, há muita sobreposição nos ensinamentos. Essencialmente todos os ensinamentos se resumem à mesma coisa. É sobre amor e sobre nos libertar do medo e acreditar na nossa própria alma e nas dos outros e entender que nosso tempo aqui é temporário e é uma dádiva. Todas essas ideias eu sinto que são universais e elas surgem e são diferentes. Sabedoria indígena, Ayurveda e medicina tradicional chinesa, a tradição kahuna ou outras.
Parece universal nesse sentido, porque é uma espécie de busca, é uma busca da alma, é uma busca do invisível, uma busca do mundo universal, e é maior do que qualquer um de nós. Então eu acho que todos nós temos essas perguntas. Tem que haver mais, mas o que é isso?
Alma é uma investigadora do místico. Ela precisa acreditar que há mais do que a realidade cotidiana que ela está experimentando. Sua interpretação é como se estivesse nublada e confusa por suas próprias falhas, seu próprio trauma e seu próprio relacionamento consigo mesma enquanto ela está navegando e trabalhando nisso.
Eu sinto que esses são temas universais que tocam em todo o mundo, mas eu adoro que em qualquer tipo de religião ou prática espiritual, através desse tipo de religião em que você cresceu ou adotou, você pode encontrar sua própria interpretação no programa.