Post histórico: ouça o set de Carl Craig no Dama de Ferro e saiba como foi a noite antológica
Por: Eduardo Llerena
Desde que ele passou o som já senti que o cara não era muito de brincadeira, mas não era rabugento nem nada, talvez profissional demais!.. Checamos todo o rider dele bonitinho, montamos tudo do jeitinho que tinha que ser. Ele deu uma olhada no setup, ouviu um pouco do audio que tava rolando, meio que andou pro centro da pista numa de sentir o som do ambiente vazio e como isso iria rebater as ondas sonoras emitidas agora e a diferença que faria com o povo dançando à toda durante o set. Foi embaixo de uma caixa, embaixo de outra, e sem demorar muito e nem olhar pra cara de ninguém, sentou a mão no knob do master, e a pista da casa quase decolou! Ficou por lá um tempo, só girando daqui e dali… Isso tipo 12:00AM ainda. Uma passagem de som em cima da hora, mas sem erro nenhum, como que planejado…
Ele saiu pra bater um rango e chegou no final do set do primeiro DJ. Armou seu setup com muito capricho, esmero e tecnicalidade. É como se os movimentos já estivessem encodados e encriptados muito bem, numa máquina perfeita… E o set começou. Sem muitas frescuras, sem lenga lenga, o tom da pista foi transformado, e a única palavra que vinha na minha cabeça era: Techno. Depois outras palavras como Detroit, “aêêêê!!!”, e “woo hoo!!!” transpiravam não só de mim, mas da lotação inteira que recheava a pistinha do Dama de Ferro. Mixagens excelentes e graves deliciosos, tudo numa mistura afinadíssima, num repertório que não se conteve na hora de tocar os clássicos, mesmo que num BPM mais devagar, uma potência controlada, uma certeza de maestria da parte do DJ, controlando cada parte da noite.
Começou bem constante, cozinhando, cozinhando, dando e tirando, instigando, até soltar de uma vez só e mostrar o que que realmente ia rolar esta noite… Já depois de mais de uma hora, o negócio tava pelando! Foi quando de repente aparecem os primeiros acordes do clássico de seu amigo Jeff Mills, a inigualável The Bells. Também de Detroit, o hit Jaguar de Rolando, foi mixado de forma a brincar com a galera dançando, meio que chamando a galera pra dançar mesmo! Não que ninguém estivesse… A pista estava lotada! Era tipo um cutucão, meio que um jeito de te sacudir mesmo! Só colocou a intro, e depois voltou com a música anterior, levando o povo à uma gritaria sem fim!
Foi assim durante as 3 horas e pouco de set onde o quase quarentão Carl Craig mostrou seu desempenho usando um Rane de knobs, seu Mac rodando Serato Scratch, e um pár de CDJ-1000 MK3 que pilotava o som mandado para um modulador de efeitos da Pioneer que tinha de todos os efeitos imagináveis um pouco…
Foi uma noite clássica, sinceramente imperdível, um ícone da Música Eletrônica tocando clássicos misturados com o que ainda não haviámos ouvido por estas bandas, tudo mixado com a precisão cirúrgica de uma verdadeira lenda, apresentado de forma semi-privé, num club onde a lotação máxima não passa de 250 pessoas. Quando o set terminou já era dia, e a pista ainda cheia o aplaudiu fervorosamente… Há muito tempo o Rio de Janeiro não ganha um presentão desses! Que venham outros!
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