Eu queria tanto a minha MTV faz 30 anos…


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MTV faz 30 anos

MTV faz 30 anos – conheça um pouco da história do primeiro canal dedicado exclusivamente à música

Há 30 anos estreava nos Estados Unidos um novo conceito de televisão. A MTV, Music Television, foi a primeira TV americana a exibir música durante 24 horas, 7 dias por semana.

A estreia foi realmente antológica e tentou se equiparar em importância com a chegada do homem à lua. As primeiras imagens da MTV americana, que entrou no ar à 0 hora do dia 1º de agosto de 1981, mostraram uma reprise do lançamento da Apolo 11, de 1969, a nave que levou o astronauta Neil Armstrong à lua. Ele foi o primeiro homem a pisar no satélite da terra e comentou seu feito em cadeia planetária com a célebre frase: “one small step for a man, one giant leap for mankind” (“um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”), um momento histórico também para a TV já que foi uma das primeiras transmissões ao vivo via satélite para o mundo todo. Após as imagens da contagem regressiva e do lançamento do foguete, foi exibida pela primeira vez a icônica vinheta da MTV com efeitos de animação sobre as imagens de Neil Armstrong na lua, anunciando o primeiro videoclipe exibido na emissora: Video Killed The Radio Star, da banda Buggles, de Trevor Horn. O clipe havia sido dirigido em 1979 pelo australiano Russell Mulcahy, que posteriormente dirigiu alguns dos videoclipes mais venerados da história da música, de gente como Duran Duran, Culture Club e Spandau Ballet e se tornou um renomado diretor de TV, comerciais e cinema.

A MTV prenunciava a década de 80, a do auge do videoclipe, da videoarte, do nascimento da TV a cabo, do videocassete e das câmeras VHS domésticas. Foi a década das realizações do pensador midiático canadense Marshall Mac Luhan, morto em 1980 e autor da máxima: “a mídia é a mensagem”. Causando uma grande revolução na indústria da música e do audiovisual, a MTV começou mostrando apenas videoclipes, a maioria produzidos exclusivamente para o canal numa época em que as gravadoras eram milionárias e investiam muito dinheiro nos artistas, novos ou consagrados. Nos primeiros anos da MTV os clipes tinham uma estética original e não havia uma fórmula. Os diretores, vindos da publicidade, das artes plásticas, da fotografia ou do cinema, se aventuravam e arriscavam bastante numa plataforma que lhes permitia grande liberdade de criação com um orçamento bem camarada.

Bandas e artistas dos anos 80 foram cria da MTV, incluindo as mega estrelas Madonna e Michael Jackson, que já era um astro conhecido mundialmente. A boa fase dos primeiros anos da MTV deixou como legado videoclipes que até hoje são referência como Take On Me do A-HA, dirigido por Steve Barron, Sledgehammer de Peter Gabriel, dirigido por Stephen R.Johnson usando animação de dois grandes nomes do gênero, Brothers Quay e Aardman Animations (de Wallace e Gromit e A Fuga Das Galinhas), Money For Nothing do Dire Straits, dirigido por Steve Barron utilizando pioneira técnica de animação com a computação gráfica dando os primeiros passos na elaboração de personagens humanos, Thriller de Michael Jackson, dirigido pelo cineasta John Landis, Rio de Duran Duran, dirigido por Russel Mulcahy, Close To The Edit do Art Of Noise, dirigido por Zbig Rybczynski, Hello Again do The Cars, único videoclipe dirigido por Andy Warhol, Bizarre Love Triangle do New Order, dirigido pelo artista plástico americano Robert Longo, Addicted to Love, de Robert Palmer, dirigido pelo fotógrafo britânico Terence Donovan e You Might Think do The Cars, produzido e dirigido pela produtora Charlex, um dos primeiros clipes a usar computação gráfica e edição com várias camadas de imagens.

Antes da MTV, nos anos 60 e 70, já havia um movimento na criação de musicais que foram batizados de videoclipes nos anos 80. A maioria das gravações eram feitas em programas de TV ao vivo, mas alguns já experimentavam com o formato essencialmente musical e experimental, como os Beatles em O Submarino Amarelo, os Rolling Stones na gravação de It’s Only Rock’n’Roll (But I Like It), de 1974 e o filme/show Ziggy Stardust, de David Bowie. Os anos 70 já vislumbravam a década do vídeo musical também em óperas rock como Tommy, do The Who e The Wall, do Pink Floyd.

Com a MTV as bandas que acabaram fazendo maior sucesso foram aquelas que já planejavam seus videoclipes antes de lançarem seus álbuns e participavam ativamente da criação dos audiovisuais. Os clipes destes artistas continuam até hoje como referência de excelência no formato, utilizando diversos recursos e se inspirando em várias estéticas, da publicidade à moda, da videoarte à animação, do cinema comercial ao filme de arte, na produção audiovisual do leste europeu ou então dando os primeiros passos na computação gráfica e na edição digital. Depois da MTV os artistas não podiam mais se fiar apenas na qualidade de suas músicas, shows e gravações. Agora o visual dos indivíduos e das bandas passavam a ser elementos cruciais para o sucesso, bem como a produção de videoclipes.

Nos anos 80 aqui no Brasil não tínhamos nenhum acesso ao material da MTV, a não ser por fitas VHS gravadas em videocassetes caseiros nos Estados Unidos. Mesmo assim videoclipes começavam a ser exibidos em programas independentes que faziam parte da programação de TVs abertas de pouca audiência. O programa de surf Realce, na TV Record do Rio de Janeiro, exibiu muitos videoclipes naquela época, bem como o programa da TV paulistana Gazeta, o Crig-Rá, da Olhar Eletrônico, produtora independente brasileira de propriedade do hoje consagrado diretor de cinema Fernando Meirelles e que lançou, entre outros, o jornalista Marcelo Tas e a apresentadora do Jornal Hoje da TV Globo, Sandra Annemberg. Na Globo, que tinha hegemonia total de audiência no Brasil nos anos 80, alguns videoclipes eram exibidos esporadicamente no programa Vídeo Show e no Fantástico. A “vênus platinada”, como era chamada jocosamente a mais poderosa emissora de TV brasileira daquela década, chegou a produzir alguns videoclipes para artistas nacionais, para exibição exclusiva no Fantástico. A Globo também investiu muito no departamento de vinhetas e aberturas de programas e novelas, elevando o diretor do departamento Videographics, o austríaco Hans Donner, à categoria de maior designer brasileiro do vídeo nos anos 80.

A MTV só chegou ao Brasil em 20 de outubro de 1990, após anos de politicagem que atrasou a estreia da TV a cabo no país. A editora Abril, que pleiteava um canal de TV desde os anos 70, finalmente conseguiu a concessão de um canal aberto em UHF (ainda não era a desejada TV a cabo) e, após um acordo com a MTV americana, lançou a MTV Brasil. No ano seguinte a Abril lançou a primeira empresa de TV a cabo do país, a TVA, trazendo ao Brasil os canas americanos Turner, CNN e TNT, além do canal de esportes ESPN. Logo depois vieram os canais a cabo da Globosat, das organizações Globo.

O primeiro vídeo a ser exibido na MTV Brasil foi Garota de Ipanema, de Tom Jobim, em bizarra versão interpretada por Marina Lima, com direção do inglês Jon Klein.

Nessa época a MTV americana já dava os primeiros sinais de decadência. A audiência já não crescia mais e a emissora passou a investir em outro tipo de programação, como game shows e reality shows. Na década de 90 as gravadoras ainda gastavam milhões nos videoclipes de grandes artistas, mas a onda do hip hop e da sanitização do heavy metal instaurou um marasmo criativo e uma fórmula fácil na produção dos videoclipes, fato que também ajudou na decadência da TV dedicada exclusivamente à música.

No Brasil a MTV ainda pegou uma fase boa das gravadoras que tinham dinheiro para investir nos clipes nos anos 90. Um dos nomes que despontou nessa época foi o da produtora Conspiração Filmes, que produziu vários clipes vencedores do Video Music Brasil. Entre os VJs da MTV Brasil, quase todos seguiram carreira na TV brasileira, aberta ou a cabo, sendo os mais bem sucedidos a apresentadora Astrid Fontenelle, que começou nos anos 80 na TV Gazeta, Maria Paula, hoje atriz de comédia que despontou na TV Globo, no programa Casseta & Planeta, Fernanda Lima, Sabrina Parlatore e Gastão Moreira. Hoje o canal investe principalmente no humor.

Agora, já na segunda década do século 21, tanto a MTV americana quanto a brasileira sofrem a concorrência ferrenha da internet e de outros canais a cabo também dedicados à música ou com parte de sua programação dedicada à apresentação de videoclipes. As gravadoras hoje dificilmente investem nos videoclipes de artistas e os orçamentos milionários ficam somente com gente como Britney Spears ou Lady Gaga que, apesar de terem estrelado musicais caríssimos, jamais fizeram videoclipes que ficarão na história do audiovisual, pelo menos no que diz respeito ao valor artístico.

Bandas e artistas na maioria das vezes financiam por conta própria seus clipes, mas alguns baluartes da música pop ainda devem deixar um bom legado de vídeos musicais como Björk e suas parcerias com os diretores Michel Gondry, Spike Jonze e Chris Cunningham, diretores que se revelaram nos anos 90, além de Madonna, Radiohead, Depeche Mode (que revelou Anton Cörbjin) e Arcade Fire. Bandas novas têm investido bastante em videoclipes e algumas têm obtido sucesso razoável, como os norte-americanos do OK Go que lançaram um dos melhores clipes dos últimos anos, Here It Goes Again, que mostra a banda dançando sobre esteiras elétricas.

De qualquer forma estes vídeos não são feitos com o intuito de serem veiculados na MTV, como acontecia na década de 80. Hoje os musicais servem de virais na internet e são postados em portais de vídeo como You Tube, Vimeo e outros, se alastrando rapidamente pela web em redes sociais, blogs, sites e portais.

No entanto, o arquivo de videoclipes da fase áurea da MTV, os anos 80, ainda é a melhor referência para produtores de audiovisuais na atualidade e ainda está por vir uma fase tão fértil como aquela, no que diz respeito à originalidade, criatividade e experimentalismo do audiovisual. MTV faz 30 anos

Veja abaixo as primeiras imagens da MTV americana, do dia 1º de agosto de 1981:

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