Olek mostra no Brasil instalação em crochê


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(fotos Sesc Interlagos: Lost Art)

Sesc Interlagos em S.Paulo estreia esta quinta obra da artista polonesa – confira entrevista exclusiva

Agata Oleksiak, simplesmente Olek, ou ainda Crocheted Olek (Olek “crochetada”) é a mais importante artista da atualidade no ocidente trabalhando com crochê. Seu trabalho envolve intervenções urbanas, performances, vídeos, esculturas e instalações, sempre em torno do crochê que é feito com materiais diversos e não somente com lã ou linha. Sua arte pode se inserir no movimento de graffiti com crochê, conhecido com Yarn Bombing, apesar da artista não admitir ser anexada a nenhum grupo ou movimento. Olek, polonesa de 35 anos, radicada nos Estados Unidos desde 2000, conseguiu levar sua arte a um patamar mais elevado que as simples e bem humoradas intervenções do Yarn Bombing.

Esta semana Olek inaugura em Washington, no prestigioso Smithsonian American Art Museum, sua instalação mais importante, o apartamento de crochê, dentro da mostra 40 Under 40: Craft Futures, coletiva com curadoria de Nicholas Bell.  A instalação, que já foi mostrada na Christopher Henry Gallery, em Nolita, bairro do sul de Manhattan, foi confeccionada inicialmente no apartamento da artista no Brooklyn, em N.York e consiste em um apartamento totalmente coberto de tecido em crochê. Todas as paredes, todas as molduras de quadros, a televisão e até o vaso sanitário são cobertos com os pontos de Olek.

Outro trabalho da artista que obteve visibilidade internacional é a intervenção do touro de Wall Street que foi coberto totalmente na véspera de Natal de 2010. A estátua do touro, doado à cidade como uma ode e ao mesmo tempo uma crítica ao capitalismo pelo artista ítalo-americano Arturo Di Modica, fica no parque Bowling Green no sul de Manhattan, perto da Bolsa de Valores de N.York e é um marco da cidade. A princípio colocada em frente à Bolsa de Valores de N.York sem autorização das autoridades novaiorquinas em 1989 pelo artista, a estátua de cerca de três toneladas de bronze posteriormente foi realocada no parque Bowling Green, no sul de Manhattan.

No último ano Olek esteve em vários países. Fez uma exposição na galeria Jonathan Levine em N.York, passou um mês na China experimentando com intervenções urbanas e esteve ainda na Polônia, sua terra natal, onde ficou bastante conhecida após sua intervenção no touro de Wall Street.

A partir do dia 19 de julho o Sesc Interlagos mostra uma instalação gigante de Olek, um jacaré todo coberto de crochê que foi feito por ela com a ajuda de “crocheteiros” locais.

Confira uma entevista exclusiva do Bitsmag realizada com Olek em setembro de 2011:

Bitsmag: Você já esteve no Brasil?

Olek: Estive sim, por dois meses, em 2009. Participei de um projeto de residência artística em Itaparica, na Bahia, do Instituto Sacatar. Adorei o lugar mas só conheci o que havia em volta dali pois não tive muito tempo. Depois da residência eu queria ficar mais um pouco mas fui convidada para fazer uma exposição na Polônia.

Bitsmag: Porque você não gosta que seu trabalho seja conhecido como parte do movimento Yarn Bombing?

Olek: Eu venho fazendo este trabalho desde antes do aparecimento do Yarn Bombing e portanto inspirei esse movimento. Além disso o que tenho visto em termos de Yarn Bombing eu não acho interessante nem visualmente, nem conceitualmente. As pessoas que o fazem dizem que querem trazer humor para a cidade e não acho que esse seja o aspecto mais importante da arte. O que me interessa no meu trabalho de rua efêmero é a transformação, o ciclo da vida, o que acontece com as coisas que deixo ali e como elas se modificam de um estado de novidade para lentamente deixarem de existir. Portanto tenho um “approach” diferente daquele aplicado pelo Yarn Bombing. Trabalho em vários níveis e não somente na rua. Fiz minha primeira obra de arte em crochê em uma árvore em 2002, um bom tempo atrás e meu trabalho não tem nada a ver com essa terminologia. Além disso não tenho interesse em participar de nenhum grupo, gosto de trabalhar individualmente.

Bitsmag: Quando você aprendeu a fazer crochê?

Olek: Eu aprendi quando estava no segundo ou terceiro ano da escola por minha conta e depois, quando tinha uns 17 anos, raspei a cabeça e acabei ficando doente. Faz muito frio no inverno na Polônia, então eu decidi fazer uns chapéus de crochê para mim. Em 2000, já vivendo nos Estados Unidos, na escola de arte me pediram para fazer um figurino para uma amiga e resolvi fazer em crochê e a partir daí comecei a desenvolver minha técnica.

Bitsmag: Poderia citar algumas inspirações em seu trabalho?

Olek: Cada trabalho é muito diferente do outro. Trabalho com tantos assuntos diferentes, então isso varia de trabalho para trabalho e de lugar para lugar onde faço minhas intervenções.  Eu faço arte de rua, instalações, fotografia, vídeo, tudo em torno do crochê. O vídeo Working Woman in Red (veja abaix0) representa bem minha filosofia e inspiração. É uma performance onde eu faço crochê intermitentemente, a mesma peça, por cinco ou seis horas, assistindo ao filme 8 e 1/2  de Fellini e 8 Mulheres e Meia de Peter Greenaway. A performance mostra a destruição e a subsequente construção de algo novo.

Bitsmag: Conte sobre seu trabalho na China.

Olek: Cobri uma bicicleta com crochê em Xangai e fiz uma performance fazendo crochê camuflagem na rua. Intervenções públicas não existem na China. É complicado fazer arte nesse país pois tudo pode ser tirado do verdadeiro contexto e pode dar problema para o artista.

Se sou convidada para expor em algum evento pelo mundo eu vou, viajo bastante.  Meu trabalho tem a ver com movimento, sempre uma carreira atrás de outra, ponto atrás de ponto. Quero sempre viajar, estar em novos lugares e ouvir novas línguas.

OLEK capa

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