Rapper pretende se candidatar novamente à presidência dos Estados Unidos em 2024
Que o rapper Kanye West vive para chocar não resta dúvida, mas nas últimas semanas ele tem ultrapassado todos os limites. Até mesmo seu amigo Donald Trump declarou que ele precisa de ajuda.
A recente escalada de disparates do rapper começou na semana de moda de Paris, em setembro. Kanye exibiu a coleção Yeezy e, acompanhado da apresentadora de podcast conservadora Candace Owens, vestiu uma camiseta com os dizeres “White Lives Matter” (vidas brancas importam), zombando do movimento Black Lives Matter que se dedica à luta pelos direitos, além do apoio e acolhimento da comunidade negra norte-americana.
Sobrou inclusive para o designer de moda Virgil Abloh, falecido recentemente. Kanye criticou o fato da Louis Vuitton estar fazendo homenagens ao artista.
Ainda no quesito moda, no qual Kanye se acha um expert, ele distribuiu críticas e comentários ofensivos dirigidos à cantora Lizzo. A estrela, um dos maiores nomes da música pop atual, tem abraçado a imagem de mulher com quilos a mais e tem construído um movimento de inclusão e contra a gordofobia. Kanye não mediu suas palavras em relação àquela que ele chama de “amiga”:
Quando a Lizzo perde peso e divulga, os bots… no Instagram, eles a atacam por perder peso, porque a mídia quer passar uma percepção de que estar acima do peso é um novo paradigma, quando na verdade é insalubre.
No dia seguinte, durante um show em Toronto, Lizzo rebateu os comentários sem nem citar o nome do rapper Kanye.
Eu sinto que todo mundo nos Estados Unidos tem a “porra” do meu nome na “porra” da sua boca por nenhuma “porra” de razão. Eu só quero saber da minha própria vida: gorda, bela e preta.
Na mesma semana, como se agredir Lizzo e ativistas que lutam pela causa do povo negro não fosse um grande absurdo, Kanye tuitou um comentário anti-semita que lhe rendeu a suspensão nas plataformas Twitter e Instagram. O comentário de Kanye dizia que ele pretende agora ficar na espreita com o povo judeu, usando o termo “defcon”, estado de alerta máximo do exército americano, portanto um termo que implica belicosidade.
Por conta desses comentários as contas de Kanye West no Instagram e no Twitter foram suspensas temporariamente. Vários artistas fizeram declarações se posicionando contra os comentários do rapper. De Jaden Smith a Jamie Lee Curtis, passando pelo radialista Howard Stern, diversas celebridades tem se mostrado ofendidas pelos comentários racistas de Kanye West.
O barraco saiu “varrendo” vários outros artistas negros de projeção, como Sean “Diddy” Combs, que Kanye “acusa” de ser dominado por judeus. Outro que saiu chamuscado foi Ice Cube, o qual já havia feito anteriormente comentários anti-semitas.
Ninguém está aguentando mais Kanye West, incluindo a ex-esposa, Kim Kardashian. Ela precisou reforçar a equipe de segurança de seus filhos depois dos comentários anti-semitas do ex-marido.
Kanye está sofrendo vários tipos de represálias. A instituição financeira JP Morgan cortou relações com o artista e pediu que ele retirasse seu dinheiro do banco. Estamos falando de algo em torno dos 140 milhões de dólares, segundo rumores.
A grife Balenciaga removeu fotos e vídeos da participação do rapper Kanye em seu mais recente desfile. Ele mesmo divulgou que vai deixar a Gap, marca com a qual ele tem contrato como designer de moda.
Publicações e plataformas de internet estão virando as costas para o rapper Kanye. A revista Complex cancelou um podcast que já estava agendado. No entanto, veículos que pretendem lucrar com visualizações a qualquer custo estão dando palanque ao rapper.
O podcast Drink Champs resolveu recebê-lo esta semana para uma entrevista e o saldo foram mais e mais impropérios dirigidos a várias instituições e pessoas. O discurso de supremacia branca está sendo veiculado por uma das personalidades mais populares do mundo, no caso um homem negro, e isso é realmente algo muito preocupante.
O vídeo do podcast Drink Champs já foi removido do Youtube e do Revolt, um portal de entretenimento dedicado à comunidade negra. O áudio também não está disponível em plataformas como o Spotify. No entanto alguns comentaristas haviam copiado o vídeo antes de ser removido. (Veja abaixo alguns trechos, comentados por Hasan Piker).
No podcast Kanye ataca nada menos que uma pessoa morta. George Floyd faleceu após ser imobilizado por um policial que colocou a perna em seu pescoço e o impediu de respirar. Sua morte foi amplamente compartilhada em vídeos nas redes sociais e em toda mídia, provocando protestos em várias partes dos Estados Unidos e do mundo. O policial foi condenado a vinte e um anos de prisão.
Kanye está tentando espalhar fake news sobre George Floyd, uma iniciativa de Candace Owens que fez um documentário onde ela diz que Floyd era viciado e morreu por conta de drogas. Kanye e Candace estão dizendo que George Floyd morreu por overdose de fentanyl e não por conta do golpe no pescoço, uma falácia sem pé nem cabeça. A família de George Floyd anunciou que está movendo um processo de 250 milhões de dólares em danos morais contra Kanye West.
Continuando em sua conversa, ou melhor, monólogo, ele falou no Drink Champs diversos absurdos sobre o povo judeu como “ficaram ricos porque os advogados católicos não podiam praticar divórcios, então os advogados judeus faziam os divórcios”(!). Contou que ao ser convidado a visitar o Museu do Holocausto respondeu dizendo que a Planned Parenthood era o Holocausto negro, onde mais negros haviam morrido do que em qualquer outra situação.
Planned Parenthood é uma instituição norte americana que ampara e cuida das mulheres que precisam fazer aborto, entre outras questões de planejamento familiar. A instituição anda sob fogo cruzado pois o conservadorismo norte americano está tentando tornar a prática proibida em todo o país. Nos Estados Unidos existem leis federais e estaduais, portanto alguns estados permitem o aborto, enquanto outros não, apesar da lei federal que liberava o aborto ter sido revertida, a lei conhecida como Roe x Wade.
Isso mostra que Kanye está abraçando todas as pautas conservadoras e de cunho racista. Kanye West, um dos maiores artistas do rap norte americano, adotou a mesma ladaínha de neo-nazistas simpatizantes dos preceitos da supremacia branca!!!!!!!!!!!!!!
Esta semana ficou claro porque o rapper tem falado tanto em Candace Owens. Kanye pretende comprar a sua própria rede social e encontrou uma oferta. O marido de Candace Owens, George Farmer, é o CEO da rede social Parler, dedicada ao público conservador e Kanye deve comprar a empresa.
Muita gente tem minimizado o comportamento errático e combativo de Kanye West por conta dele já ter sido internado com problemas mentais. No entanto quando ele se apresenta publicamente não parece nem um pouco doente mental, apenas se assemelha a qualquer comunicador de extrema direita. O fato dele ser um homem negro abraçando pautas racistas e anti-semitas é realmente um absurdo, mas não é incomum.
Aqui no Brasil tivemos recentemente um político negro, Sérgio Camargo, que foi apontado diretor da Fundação Palmares durante a presidência atual. É uma instituição criada para preservar o patrimônio e a cultura da comunidade negra brasileira. Camargo é um dos campeões em discursos racistas entre os funcionários do governo federal, só perde mesmo para nosso digníssimo despresidente da República.
Sérgio Camargo foi afastado da Fundação Palmares, tentou se eleger deputado federal mas não conseguiu. Antes disso causou muita controvérsia com sua retórica de extrema direita.
Não é caso de piada a escalada de Kanye West para a extrema direita. É perigoso pois ele continua sendo uma figura muito popular, com milhões de fãs pelo mundo todo. Bom lembrar que recentemente ele tem sido visto usando um boné com o número 2024, o ano das próximas eleições para presidente dos Estados Unidos.
Das duas uma: ou ele ainda vai levar muita gente para se alinhar a ele em seu ódio aos progressistas, ou vai minar de vez a sua popularidade.
Nota: Kanye West mudou seu nome legalmente para “Ye” e não quer mais ser chamado de rapper. Nós aqui no Bitsmag continuamos chamando “Ye” de Kanye West e de rapper por saudosismo de uma época em que ele era respeitável…
Veja o programa do novo canal de Chris Cuomo no YouTube. O entrevistador debateu com Kanye esta semana.