O Jardineiro Fiel


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Bitsmag conversa com Fernando Meirelles

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Fernando Meirelles, diretor consagrado internacionalmente com Cidade de Deus e o ator inglês Ralph Fiennes estiveram no Rio e deram esta entrevista para divulgar seu novo filme O Jardineiro Fiel, uma adaptação de um romance de John Le Carré que estréia no dia 14 de outubro de 2005.

Durante a entrevista mostraram camaradagem e admiração pelo trabalho do outro, falaram do filme e de projetos futuros de cada um. Foram simpáticos e responderam diversas perguntas. Meirelles falou como foi filmar um projeto que não fosse seu (Cidade de Deus e Domésticas foram escritos e produzidos pelo próprio Meirelles). "Essa foi a parte mais difícil do projeto inteiro, conseguir contar a história que eu queria contar. Foi muito rápido, eu recebi o roteiro e 40 dias depois já estava na África. O tempo todo eu estava mexendo no roteiro. Se tive alguma angústia foi nessa fase do trabalho", contou Meirelles. Se houve algum desconforto, ele foi mais que compensado, "como diretor, essa foi a experiência mais tranqüila que tive. Em geral eu produzo os filmes, mas nesse fiquei livre com uma equipe de produção maravilhosa que não me deixava chegar problemas e não me impuseram limite algum". Meirelles manteve o direito ao corte final e à escolha do fotógrafo, Cesar Charlone, parceiro habitual.

O Jardineiro Fiel, que teve premiére de gala no Festival do Rio, é uma produção modesta para um grande estúdio, mas com um orçamento mais que generoso para Fernando com seus U$ 25 milhões. O filme conta a história de Justin Quayle (Ralph Fiennes), diplomata britânico estabelecido no Quênia e que descobre, após a morte da mulher Tessa (Rachel Weisz), que existe um jogo de poder entre indústrias farmaceûticas e o governo local, transformando a população nativa em cobaias. "Acredito que você deva tomar responsabilidade em qualquer trabalho que faça e um filme, livro ou qualquer coisa que provoque debate sobre a indústria farmacêutica tem que ser bom. Há questões maiores em jogo, como a disponibilidade de drogas como o coquetel antivírus HIV, então o filme termina jogando uma luz sobre o tema", respondeu um bem articulado Fiennes. O diretor foi questionado sobre os temas relevantes abordados pelos seus filmes, "Não sou militante ou ativista, só fiz filmes sobre assuntos que me interessavam, e se Domésticas era sobre exclusão doméstica, Cidade de Deus, sobre exclusão social, esse é sobre exclusão global".

A filmagem tinha um barril de pólvora. "O livro tinha sido censurado e proibido no Quênia por ter sido escrito durante o governo Moi. No livro todos os quenianos são muito corruptos. Quando fomos filmar, eles foram sábios e viram que seria filmado de qualquer jeito. Se não fosse lá, teria sido na África do Sul. Então eles deram permissão e contribuiram para o estímulo da indústria de cinema local", revelou Meirelles.

Trabalhar com o diretor de Cidade de Deus foi agradável para Fiennes. "Já tinha visto Cidade de Deus e quando nosso diretor saiu do projeto, fiquei entusiasmado ao saber que ele estava interessado", contou Fiennes. Meirelles ficou preocupado com a trama ser bem explicada, "Eu vi várias vezes e tudo parecia claro para mim. Fizemos duas exibições-testes em Nova York, que eu mesmo pedi para fazer, para saber se o filme estava muito complexo, se ficavam claras para o público todas as tramas", esclareceu Meirelles.

Sobre as filmagens em grandes locais públicos, o diretor se revelou bem escolado. "Existem duas formas de se filmar em locais grandes, como uma favela. Você pode pegar uma área e levar 3 mil figurantes e vai funcionar ou pode filmar no próprio local. Eu filmei a cena do mercado, em 16 mm e usei uma equipe menor do que num documentário. Você coloca os atores em cena e ninguém fica sabendo", explicou o diretor.

Ralph Fiennes não escondeu sua satisfação sobre seu personagem. "Justin é um personagem fascinante, uma jornada maravilhosa, uma espécie de odisséia, um homem que é gentil e passivo e que, ao longo do filme, desenterra a força e a determinação que estão dentro dele, meio adormecidas", descreveu Fiennes. Ele também retratou que o filme foge dos clichês relacionados à Àfrica. "Apesar do filme mostrar a pobreza, mostra também a vitalidade, o espírito do povo. Esse é um dos paradoxos".

Como era inevitável, surgiram as perguntas sobre projetos futuros. Sobre fazer Lord Voldemort em Harry Potter e o cálice de fogo, Ralph Fiennes foi categórico: "Usei minha imaginação como ferramenta principal, até por acreditar que a pesquisa é uma referência, o ator tem que buscar na sua imaginação o personagem. Para viver esse gênio do mal, eu e o Mike Newell trabalhamos com diferentes visões de crueldade. Enfim, foi fantástico fazer algo diferente". Já Fernando Meirelles entregou que está envolvido em dois projetos – Intolerância 2, que interrompeu para rodar O Jardineiro Fiel, e fala de globalização por meio de histórias ambientadas em sete países (Brasil, EUA, Filipinas e Quênia, são alguns deles) e um outro com um roteirista carioca – mas só desse primeiro topou falar. "Estou voltando a ele, são histórias ligadas por personagens que não sabem que estão ligados, como se fossem pequenos curtas-metragens. Já o outro é um roteiro que estou desenvolvendo agora e prefiro nada falar", pontuou o diretor. Sua produtora, a O2, também está filmando uma co-produção com a americana Millenium. Um filme de baixo orçamento, Journey to the End of the Night (que está sendo filmado em São Paulo à noite) e conta com Brendan Fraser, Matheus Nachtergaele, Scott Glenn, Catalina Sandino Moreno, Alice Braga e Aílton Graça. As filmagens acabam em duas semanas. Fernando Meirelles ainda tem O Jardineiro Fiel para promover e muito trabalho pela frente.

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