Complexo cultural inaugurado no Rio deve se tornar ícone arquitetônico e de modernidade
Complexo cultural inaugurado no Rio deve se tornar ícone arquitetônico e de modernidade
Foi um balde de água fria quando se soube que a inauguração da Cidade da Música, marcada para o dia 18 de dezembro, havia sido cancelada. O Corpo de Bombeiros vetou a abertura do complexo alegando não haver as mínimas condições de segurança. Na verdade havia muito pouca diferença do que se viu no dia 16 de dezembro e o que se viu nos dias 27 e 28, quando finalmente foi feita a inauguração da Cidade da Música, além da presença de dezenas de brigadistas do Corpo de Bombeiros que chegou a exigir 180 homens para uma lotação máxima de 900 pessoas, quando para o mesmo trabalho exigiu que estivessem presentes somente 120 no show de Madonna no Maracanã. O mega-evento da cantora americana recebeu a cada dia de show cerca de 40 mil pessoas e acabou por estragar o gramado do amado estádio de futebol carioca. Mas isso ninguém reclamou ou gastou páginas de jornal para criticar a organização do show ou do próprio estádio.
É evidente que no caso da Cidade da Música houve politicagem, resquício das rusgas e farpas trocadas durante o período das eleições quando os candidatos de oposição usaram fartamente os gastos com a Cidade da Música e as obras do Pan contra a candidata do DEM, Solange Amaral, do mesmo partido do prefeito Cesar Maia.
Incompreendido, o prefeito do Rio de Janeiro fez um discurso bastante esclarecedor na inaguração da Cidade da Música, explicando que hoje entende que a decepção com o veto a seu projeto de construir um museu Guggenheim no Rio de Janeiro acabou se transformando em incentivo à construção da Cidade da Música e que ele só podia agradecer a seus opositores.
O complexo da Cidade da Música na Barra da Tijuca é uma obra arquitetônica para ficar na história do país, ao lado de grandes ícones como os de autoria de Niemeyer. O arquiteto francês Christian de Portzamparc, que é casado com uma arquiteta brasileira, é responsável por outras obras dedicadas à música erudita como a New York City Opera House, o teatro da Filarmônica de Luxemburgo e a Ópera da Bastilha, em Paris. O arquiteto foi o escolhido pelo prefeito Bloomberg para tocar a obra de reforma do Lincoln Center de N.York e enquanto o novo Metropolitan não ficar pronto a Cidade da Música detém o título de espaço de música erudita mais moderno do mundo.
Além da sala de concertos que conta com equipamento que a faz versátil, podendo ser configurada tanto para concertos de música como para apresentações de balé e ópera, a Cidade da Música tem vários outros espaços. Uma galeria de arte, três cinemas, um restaurante e uma livraria fazem parte do complexo que tem ainda instalações para sediar permanentemente a Orquestra Sinfônica Brasileira que hoje não tem uma sede própria e tem de ensaiar em espaços emprestados.
O complexo cultural da Barra da Tijuca traz ao bairro um viés de sofisticação que não era tão visível. Deve dissipar os discursos bairristas de cariocas “magoados” eternamente com o bairro que existe a menos de 30 anos e portanto só recebeu arquitetura do final do século XX.
Considerada a “miami” tupiniquim a Barra da Tijuca, na verdade, é o bairro que tem mais salas de cinema em todo o Rio de Janeiro, 41 ou 45, contando as quatro salas do São Conrado Fashion Mall. Nem N.York tem tal concentração de salas de cinema numa única região, lembrando ainda que cinco dessas salas exibem filmes que não são do circuito comercial. O complexo cultural da Cidade da Música vai abastecer de cultura o bairro que tem ainda quatro grandes livrarias, Saraiva, Argumento, Fnac e Travessa. A Barra da Tijuca, bairro rotulado como “cafona” pelos já citados cariocas “magoados”, é agora um grande centro de cultura no Rio de Janeiro.
A cidade só pode agradecer ao prefeito Cesar Maia e à Secretaria das Culturas de sua gestão, a cargo do secretário Ricardo Macieira que, além das grandes obras do Pan e da Cidade da Música, deixa para o carioca uma rede de centros culturais totalmente restaurados, espalhados pela cidade toda, bem como um trabalho muito bem feito com a cultura de raíz da cidade, o samba. A Secretaria das Culturas assumiu nos últimos anos a administração dos desfiles das Escolas de Samba de segundo grupo e grupos de acesso, além de ter dado grande incentivo aos blocos e ao carnaval de rua em geral.
É muito importante reconhecer os feitos desta prefeitura no que se refere à cultura, pois o que vem por aí nesse campo em nossa cidade é um quadro bastante nebuloso. O novo prefeito da cidade, Eduardo Paes, cuja esposa declarou com orgulho à revista Veja ser fã do cantor Fábio Jr., doou como presente político ao PC do B, pelo apoio à sua campanha para prefeito, a Secretaria das Culturas. O órgão vai ser chefiado pela candidata derrotada à prefeitura, Jandira Feghali, que é médica e, pelo que se sabe, não tem a menor experiência com nenhuma área cultural. A nova Secretária das Culturas chegou a declarar recentemente que, para manter o complexo da Cidade da Música, será necessário promover shows de hip hop no espaço de música erudita.
Confira fotos da Cidade da Música, com imagens dos últimos retoques da obra e imagens do concerto de inauguração com a Orquestra Sinfônica Brasileira regida por Roberto Minczuc e participação da soprano dinamarquesa Sine Bundgaard:
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