Serviço de compartilhamento de carona está revolucionando o transporte em São Francisco e em outras cidades americanas
Em nossa recente viagem aos Estados Unidos avistamos em vários pontos de São Francisco carros que trafegam com bigodes no capô, grandes bigodes cor-de- rosa. No início pensamos que era algum serviço especial de carro ou táxi que atende a comunidade gay, já que São Francisco tem inclusive um bairro, o Castro, onde se concentra a população gay da cidade. Um vendedor de uma loja em Haight-Ashbury até confirmou nosso pensamento mas, na verdade, os carros de bigodes rosa que trafegam em São Francisco não são um privilégio da comunidade gay e fazem parte da frota de uma empresa muito inovadora chamada Lyft, palavra que em inglês, mudando apenas uma letra, o y pelo i, quer dizer carona.
A Lyft atua em São Francisco desde o início de 2012 e tem sua operação baseada na internet. O processo é análogo ao do site de ofertas de hospedagem temporária Air B’nB e do serviço brasileiro de cooperativa de táxis EasyTaxi que opera em São Paulo e no Rio. Tudo começa com um aplicativo para iPhone ou Android que funciona em conjunto com o GPS do Google Maps. Através do aplicativo se faz o login, a busca e o pedido por um carro disponível nas proximidades.
O conceito revolucionário no entanto não envolve somente um aplicativo que auxilia na localização de um carro. Na verdade o que se está contratando não é uma corrida de táxi e sim uma carona no veículo de um dos motoristas que previamente colocou seu carro e seu serviço à disposição da rede de usuários da Lyft. A cobrança da corrida é facultativa pois se trata de um serviço de carona e não um táxi. O pagamento não é obrigatório, mas quando o cliente chega a seu destino o sistema manda uma mensagem para o celular do passageiro e sugere um valor e uma gorjeta, e esse valor pode ser pago com cartão de crédito através de um dispositivo acoplado ao telefone celular do motorista. Esse sistema de cobrança já é utilizado em várias lojas americanas como as redes Apple e Sephora, além de alguns serviços de táxi. A Lyft é o braço urbano de outra startup de oferta de caronas online, a Zimride que opera com viagens principalmente entre cidades do estado da California e com redes sociais de estudantes das várias universidades da área.
Como se pode imaginar o serviço já está causando celeuma entre os taxistas de São Francisco que passaram a se modernizar, inserindo cobrança por cartão de crédito entre outras melhorias, mas que ao mesmo tempo estão tentando combater, inclusive na justiça, a nova forma de conectar passageiros e motoristas através de um aplicativo.
O jovem executivo John Zimmer trabalhava no fatídico banco Lehman Brothers e resolveu sair, por sorte, meses antes da catastrófica falência, estopim da crise financeira americana em 2008. Enquanto seus ex-colegas de Wall Street enfrentavam o inesperado desemprego Zimmer havia há pouco se mudado para Palo Alto, no coração de Silicon Valley. Ao lado do amigo Logan Green fundou a Zimride com uma pequena quantia de investimento da incubadora fbFund do Facebook. Em pouco tempo conseguiram investimentos de cerca de 7.5 milhões de dólares de vários pesos-pesados da web, entre eles a turma do PayPal.
Zimmer tinha formação e experiência na área financeira e na administração hoteleira. Green, nascido e criado numa das cidades de maior tráfego do mundo, Los Angeles, havia desenvolvido na faculdade um sistema de oferta de caronas que chegou a chamar a atenção do departamento de transportes da California onde ele foi convidado a estagiar. Os dois se conheceram no Facebook quando um amigo em comum compartilhou a ideia de Logan de uma empresa de oferta de caronas, chamando a atenção de Zimmer que já se interessava pelo assunto. Em pouco tempo os dois se conheceram pessoalmente e resolveram fundar a startup Zimride que tem inspiração em meios de transportes de países de baixa renda. Logan Green havia visitado o Zimbábue e se surpreendeu com o sistema de lotação usado na cidade, um serviço informal de transporte público que nós conhecemos muito bem no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro: o serviço de vans.
Zimride e sua co-irmã Lyft não são as primeiras empresas americanas a usar o conceito de compartilhamento para melhorar a equação número de carros/número de passageiros. Outros serviços de oferta de transporte compartilhado também estão fazendo grande sucesso, como SideCar, RelayRides e Uber, que oferece carros de luxo com motorista a preços altos, mas é uma ótima solução para executivos. Por sua vez a Zipcar da costa leste dos Estados Unidos tem revolucionado o mercado de aluguel de carros com um serviço que tem a dinâmica parecida com a do aluguel de bicicletas em algumas cidades européias e no Rio de Janeiro. Na verdade a ideia não é “alugar” e sim “compartilhar”, palavra-chave para entender a nova economia. O usuário busca e devolve o carro no lugar que quiser, sendo que a operação toda é feita através da web e de um cartão magnético que abre os carros com um código que tem de ser emparelhado com um adesivo no vidro dos veículos.
Esse é apenas o começo de uma revolução no sistema de transportes das grandes cidades e muita coisa ainda vai ser ajustada como a questão da manutenção dos automóveis, seguros dos carros e dos passageiros e a supervisão dos motoristas. Mas uma coisa fica clara com essas iniciativas baseadas na internet: a web nos anos 90 tinha como objetivo trazer as pessoas para o espaço virtual. Nos anos 00 a experiência foi basicamente social, mas ainda dentro do espaço virtual. Nesta década a ideia é usar as inovações e as redes sociais do espaço virtual para conectar as pessoas no mundo real e ajudá-las a torná-lo mais eficiente. táxi de bigodes