Crash – No Limite


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Diga-me o que não gosta em você

 

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Dizer que Crash – No Limite é um filme sobre racismo seria uma tentativa de reduzi-lo abaixo do seu potencial, assim como dizer que é uma produção de grande elenco ou de histórias interligadas. É tudo isso e muito mais, é quase uma obra-prima. É daqueles que quando visto uma segunda vez, ganha mais complexidade, uma compreensão maior daquele microcosmo em que se situa, Los Angeles. O diretor Paul Haggis (indicado ao Oscar por ter escrito Menina de Ouro e co-roteirista deste com Robert Moresco) consegue um resultado surpreendente e revelador do lado oculto que reside no coração da humanidade.

Crash – No Limite aborda o racismo e como nos sentimos em relação a ele. Muitos filmes já bateram e baterão nessa tecla. Mississipi em Chamas enfoca o tema muito bem, só para citar um exemplo, mas aqui a amplitude e o foco são diferentes e pouco visto nas telas. Tem o clássico confronto entre branco e negro, mas tem também entre negro e latino, latino e oriental e outras variações, sem esquecer da mais atual no país onde se passa a trama, aquela contra pessoas do Oriente Médio. A situação é tão gritante e longe do politicamente correto que um detetive negro (Don Cheadle) se refere a sua parceira (a bela Jennifer Esposito), com quem tem um caso, como branca ou mexicana, sem estar correto em ambos os casos.

Produções com grande elenco e tramas interligadas (como Magnólia, Grand Canyon – Ansiedade de um Geração, Nashville ou Simplesmente Amor) possuem um ponto fraco, precisam de espaço para que cada personagem possa ser desenvolvido. Em Crash – No Limite parece que não foram desenvolvidos o suficiente, mas fica aquela sensação de quero mais e acaba sendo positivo.   O elenco é excelente: Matt Dilon, Sandra Bullock, Don Cheadle, Ryan Phillippe, Brendan Fraser e Thandie Newton servem para atrair o grande público para uma produção pequena e que se revela surpreendente. Ver esses atores reunidos e alguns, como Sandra, fugindo de seus papéis mais habituais, dá gosto. O elenco menos conhecido é tão talentoso quanto os outros.

Crash – No Limite consegue criar uma fascinação imensa e nos brinda com uma história com tiras e ladrões, ricos e pobres, poderosos e indefesos. É um ambiente rico em contrastes, que cria o efeito surpresa, permitindo uma compreensão rápida de quem é quem, ao mesmo tempo em que fica imprevisível saber como irão agir. Esse é o grande trunfo do roteiro, junto com a habilidade de fazer com que cada um diga o que pensa, mostrando o que não gosta nos outros e por tabela, em si mesmo e ainda assim nos fazendo ter interesse e acompanhar a jornada de cada um. Longe de ser panfletário consegue o distanciamento necessário, sem precisar enviar sua mensagem. Tem crueldade, frieza, dor e tristeza, mas tem sua dose de esperança.   

Matt Dilon está brilhante como o tira racista, até a raiz dos cabelos, que dá uma dura num casal de negros, embora ele considere a mulher de pele mais clara como branca e daí sua intolerância e abuso de poder quando a revista intimamente, sob o olhar do marido impotente e do parceiro, que não aprova a atitude, mas apóia o colega. Apesar de mostrar uma personalidade desprezível vamos descobrir a angústia que ele sofre com a doença do pai e que mais tarde ele e o parceiro, separadamente, terão uma oportunidade de redenção. Crash – No Limite é assim, um filme onde nada é preto e branco, se você quiser saber.

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