Chega de caveiras: a indústria da moda tem de se conscientizar e mudar o padrão feminino antes que morra mais gente
É uma realidade: as exigências das agências de modelos, estilistas e produtores de desfiles de moda quanto ao peso das modelos chegou a um nível de irrealidade. A própria Giselle Bündchen hoje é muito mais magra que no começo da carreira. Estive com ela numa Semana Barrashopping de Moda, em 1998, e depois numa São Paulo Fashion Week, em 2003. Ela deveria estar com pelo menos uns oito quilos a menos que no começo da carreira. Nas fotos e na TV todo mundo sabe que as magrinhas não parecem tão magrinhas. Mas, mesmo nas fotos, a coisa está visível: as modelos não estão magras, elas estão esqueléticas, se vê pelos braços e pelo rosto.
Alguém viu o novo catálogo da Cantão? Fiquei com medo do braço da menina. Eu não acho isso bonito. Eu não sei quem é que acha bonito esse tipo físico. Dá medo a Victoria Beckham num editorial da Vogue americana de novembro…
Não é de hoje que vejo modelos bem feias em desfiles, principalmente de moda praia. Imagine… Logo aqui no Rio de Janeiro, que temos meninas com corpos absolutamente divinos, porque colocam essas caveiras na passarela? Para o biquini aparecer? O biquini fica é feio, junto com a moça. Praia tem a ver com saúde. Qual o propósito de colocar uma mulher com cara de doente dentro de um biquini que ela não tem como preencher, sem bunda, sem peito, sem nada?
Eu apóio e faço votos que mais e mais entidades continuem combatendo esse padrão de magreza que está infernizando a mulher do mundo moderno. Pré-adolescentes hoje, mesmo magras, já fazem dieta. As roupas vão até manequim 42 em qualquer loja. Depois disso a mulher vai comprar aonde, na Camisaria Varca? Porque o padrão de mulher não pode voltar a ser a Brigitte Bardot dos anos 50 e 60? Ou Sofia Loren (poderosa no calendário Pirelli 2007aos 72 anos), ou Elizabeth Taylor? Qual o problema com aquele tipo físico? Será que as roupas não serviriam?
Ora, isso tudo é pra que os estilistas possam inventar qualquer coisa que vai “servir”, óbvio, roupa no cabide fica sempre bom… A indústria tem de ser cada vez mais rápida, o que não inclui experimentar melhor as roupas em corpos cheios de curvas. É óbvio que dá muito mais trabalho costurar para um corpo sinuoso.
Que se danem. A indústria da moda criou um problema de saúde pública, ocasionando mortes. Ana Carolina Reston não é a primeira modelo a morrer porque não comia, tinha anorexia nervosa e bulimia. Em setembro morreu uma modelo uruguaia saindo da passarela na Semana de Moda de Montevideo. Caiu no chão e morreu. Tinha duas semanas que só comia alface e coca diet.
Chega, já deu. Estou cansada de tudo isso… Vou apoiar todo e qualquer movimento contra a contratação de modelos magras e qualquer instituição que trabalhe pra mudar esse padrão de mulher. Fantástica a decisão do governo espanhol de impedir que modelos com menos massa corporal do que o aceitável entrassem na passarela do evento Passarela Cibeles, em Madri. Impediram Esther Cañadas de desfilar. Eu vi Esther em 1999 em N.York, no mini-zoo do Central Park. Ela não era o que é hoje, uma caveira. Estava super em alta na época.
Adoro moda, adoro me vestir. Mas também adoro comer, cozinho bem pra caramba (podem perguntar aos meus amigos) e adoro ir a restaurantes. E que se dane o padrão da moda. E viva Nigella Lawson, hoje içada à condição de símbolo sexual na Inglaterra. A jornalista tem um programa de gastronomia exibido no mundo todo (no Brasil pelo canal GNT). Casada com um dos maiores colecionadores de arte contemporânea da atualidade, Charles Saatchi, Nigella é linda e bem curvilínea e, enquanto cozinha, vai saboreando a comida. É isso: o padrão de mulher tem de ser esse, o da mulher feliz e não o de mulheres com distúrbios alimentares.