SPFW: Agruras e desventuras de uma jornalista cobrindo o maior evento de moda da América Latina
Agruras e desventuras de uma jornalista cobrindo o maior evento de moda da América Latina
Tem quem ache que trabalhar fazendo a cobertura jornalística de uma semana de moda é só glamour e diversão. Bem, o glamour fica só na passarela e quem faz reportagem trabalha enlouquecidamente e não tem nenhum momento de descanso. No sábado, um dia depois do término da SP Fashion Week, tive de apelar para um massoterapeuta, pois me doía o corpo todo.
É um desfile atrás do outro e, após assistir a um desfile, o jornalista que está fazendo cobertura online, como nós aqui no Bitsmag, tem de correr para a sala de imprensa e escrever rapidamente a resenha da coleção. No meu caso ainda tenho de escolher as fotos do desfile com os fotógrafos da Agência KFK, fazer upload de vídeos instantâneos e ainda tentar alguma pautinha simpática pelos corredores e stands do evento.
Ficou tudo ainda mais difícil com o clima de reality show que se instalou na sala de imprensa. Com o aumento incrível de blogs e outros veículos credenciados para a cobertura da maior semana de moda da América Latina a sala de imprensa, apesar de ser enorme, muito bem equipada e também muito bem servida de quitutes e bebidas, fica apertada para a quantidade de pessoas. E aguentar os atuais “editores de moda” que têm complexo de diaba de O Diabo Veste Prada, é uma coisa para quem tem paciência de Jó.
Para se ter uma idéia eu tinha de lidar diariamente com disputa por cadeiras ou espaço para plugar o computador. O problema recorrente era que os tais “editores de moda”, que ninguém nunca ouviu falar, deixavam algum assistente guardando lugar indefinidamente nas bancadas. Teve o caso de um rapaz que colocou duas mochilas na bancada, guardando dois lugares, das 14h às 19h30min que foi o horário que chegaram as tais jornalistas que nem se sentaram nos lugares guardados para elas. Por cinco horas e meia outros jornalistas tentaram se sentar na bancada e não puderam pois o garoto defendia os lugares com unhas e dentes.
O clima é lamentável, bem diferente dos fotógrafos e jornalistas veteranos que fazem cobertura a anos. Para esses sempre tem lugar para mais um e o bom humor desses acaba fazendo esquecer esses momentos lamentáveis proporcionados por gente asquerosa, todavia “fashion”.
Mas a verdadeira vergonha da classe jornalística, os papparazzi, esses realmente são uma desgraça e não desejo a meu pior inimigo ter de lidar com eles. Eu tive a infelicidade de chegar atrasada no desfile de Ronaldo Fraga e os seguranças não me deixaram chegar ao meu lugar. Tive de assistir em pé ao desfile, na lateral do pit de fotógrafos. Eu nem achei ruim pois podia ver tudo de um ótimo lugar e um desfile não dura nem vinte minutos. O problema é que o segurança truculento me jogou ao lado de dois paparazzi que começaram a me ameaçar dizendo que iam me bater caso eu me colocasse na frente deles. Veja bem, eu não estava na frente de nenhum dos dois, mas sim ao lado e não estava obstruindo a visão de ninguém. Eles, no entanto, não deveriam nem estar dentro da sala pois não eram fotógrafos de pit e já tinham feito as fotos sociais, acompanhados da assessoria de imprensa. Pela regra deveriam ter saído da sala antes do início do desfile.
O tal paparazzo credenciado pela Revista Contigo, do meu lado esquerdo, me ameaçou várias vezes até que eu disse a ele que se ele me batesse (me batesse! porque eu estava ao lado dele e poderia TALVEZ entrar na frente dele…) eu iria na delegacia. Pasme: ele riu da minha cara e o segurança disse que não tinha nada a ver com isso. Do meu lado direito, porque desgraça pouca é bobagem, havia outro paparazzo, este com uma credencial verde, da produção do SP Fashion Week. Este dizia que “por muito menos já teria me dado um tapão”. Nota: eu não conseguia nem responder às ameaças pois quando um acabava de me insultar de um lado o outro continuava do outro. Os dois só pararam quando se tocaram que eu estava olhando suas credenciais e ia realmente reclamar com a produção da SP Fashion Week. Na verdade, além de receber ameaças, tive de sentir o hálito nojento desses senhores que me ameaçaram de agressão física, prostados ao meu lado, na frente do segurança que era mais agressivo que os dois juntos. O paparazzo da direita só parou de me insultar depois que eu lhe disse que seu bafo era nojento. Se eu subesse da eficácia desse comentário teria falado logo de cara…
De volta à sala de imprensa conversei com a assessoria de imprensa da SP Fashion Week e depois com a produção do evento que me prometeu que faria alguma coisa. Realmente não vi mais, durante toda a semana, o paparazzo de credencial verde que eu filmei com minha câmera e mostrei à produção, já que ele escondia a credencial com sua câmera fotográfica. O outro, da Contigo, continuou transitando pelos corredores e stands mas não pôde mais ficar nas salas de desfiles durante os shows, como é a regra.
Com os momentos de terror que eu passei pensei em sair dali e nunca mais voltar, já no primeiro dia. Só mesmo minha super assistente Rafaela (foto), maravilhada com sua primeira semana de moda, conseguiu me animar e me dar força para que eu não abandonasse a cobertura.
Como diz a Ingrid Guimarães no programa Mulheres Possíveis do canal GNT: “Isso é glamour?”