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Comercialização do marfim é um dos principais meios de financiamento de grupos terroristas na África
Por Renaldo Dias
O crescimento da economia chinesa com o correspondente aumento da classe média e camadas mais abastadas tem se traduzido em tragédia para os elefantes africanos. Com tradições milenares difíceis de serem combatidas, a utilização massiva de marfim para a confecção de diversos utensílios artesanais como canecas, pentes, “hashi” (pauzinhos ou palitos utilizados como talheres em parte dos países do Oriente), peças de xadrez, entre outros muito valorizados na cultura do país asiático, tem resultado no extermínio de animais.
Para alimentar seu crescimento, a China tem feito enormes investimentos atrás de recursos naturais principalmente minerais, petróleo e terra para a produção de alimentos. Paralelamente cresce a imigração de trabalhadores chineses que formam bairros tipo “Chinatowns” na maioria das capitais africanas.
A procura pelo marfim nos últimos anos teve um aumento significativo. Segundo a ONG Save the Elephants, em 2004 estavam registrados 31 pontos de vendas de marfim na China. Esse número subiu para 145 em 2013. Além dessas lojas controladas, há inúmeros locais que comercializam ilegalmente o “ouro branco”. Calcula-se que 90% do marfim proveniente da China tenha origem ilegal.
Para se ter uma ideia de como o negócio é lucrativo, em 2010 o preço do marfim bruto era de 750 dólares o quilo, atingindo a cifra de 2.100 dólares em 2014. O alto lucro tem atraído diversas atividades criminosas, fazendo prosperar o crime organizado, as milícias rebeldes e os grupos terroristas como o Boko Haram, na Nigéria; o exército do senhor de Joseph Kony, no Congo; o Al-Shabaab, na Somália e os Janjawid, no Sudão.
Recentes relatórios da Interpol, do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), do WWF (Fundo Mundial pela Vida Selvagem) e de diversos setores independentes afirmam que o marfim africano é um dos principais meios de financiamento desses grupos que aterrorizam o continente.
A crueldade da matança dos grandes paquidermes não tem limites. Para facilitar a caça os criminosos tem utilizado lança-granadas, fuzis de alto poder destrutivo, e ultimamente do cianeto, envenenando massivamente tanto os grandes animais que portam enormes presas quanto às fêmeas grávidas e os filhotes.
Para se ter uma ideia aproximada da tragédia, somente na República do Chade, devido a caça indiscriminada praticada entre outros pelos terroristas do Boko Haram, a população de elefantes do Parque Nacional Zakouma passou de 4 mil exemplares em 2006 para somente 450 em 2011. Nesse ritmo brutal de massacres o elefante estará extinto nessa região num futuro próximo.
A venda de marfim além de beneficiar bandos de criminosos e terroristas, priva os países africanos de arrecadar milhões de dólares gerados pelo turismo ecológico que tem como principal atração a megafauna característica do continente. Moçambique, por exemplo, perdeu em 2012 cerca de 21 milhões de dólares em receitas relacionadas ao turismo, pois a redução drástica das populações de elefantes prejudicou a visitação nas zonas turísticas que se beneficiavam de sua presença.
É urgente a adoção de medidas que inviabilizem não somente a caça, mas o consumo do marfim. É fácil culpar a cobiça dos caçadores furtivos, no entanto, são os consumidores que recompensam essas práticas. Diminuir a valorização de produtos de marfim é uma atitude responsável que pode fazer a diferença na sobrevivência dos elefantes. Há vários produtos desse tipo que são comercializados em sites chineses, também acessados por brasileiros que por ignorância ou cobiça, contribuem para a matança desses icônicos animais. Utilizar os hashis de marfim na culinária oriental para mostrar ascensão social e status, não é só de mau gosto, mas uma atitude criminosa e insensata. Não há nenhuma segurança de que a origem seja legal.
Diversas organizações de proteção aos elefantes têm demonstrado que a comercialização do marfim está fora de controle e a maior parte do que é vendido tem origem duvidosa. Evitar a valorização de objetos de marfim é defender a vida de um belo e grandioso animal que merece ser visto pelas próximas gerações caminhando livremente nas pradarias e florestas africanas.
*Reinaldo Dias é professor da Universidade Mackenzie Campinas. É mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp e especialista em Ciências Ambientais.
É preciso repudiar a caça a elefantes!
Veja abaixo esforço de ambientalistas para salvar os elefantes na Costa do Marfim: