Nick Prugo, Alexis Neiers e produtoras de Pretty Wild falam sobre os crimes
Se fosse escrito em um roteiro, ninguém acreditaria. No final da primeira década dos anos 2000 as redes sociais ainda estavam engatinhando, a mídia de fofoca tinha uma força monstruosa e os programas de maior audiência na TV eram os reality shows.
O culto à celebridade e às marcas de luxo era enorme, principalmente em Los Angeles, a meca da cultura da fama. Alguns dos nomes mais em evidência na época eram Lindsay Lohan, Paris Hilton, Rachel Blison, Orlando Bloom e sua esposa, a super modelo australiana Miranda Kerr, além do ator Brian Austin Green, então casado com Megan Fox.
Essas celebridades de grande projeção foram as vítimas escolhidas por uma gangue de adolescentes de classe média que se especializou em roubar residências de famosos. A gangue recebeu o nome de Bling Ring. Furtavam roupas, jóias e dinheiro de residências as quais eles invadiam com relativa facilidade, apesar dos grandes aparatos de segurança. A gangue Bling Ring atuou entre outubro de 2008 e agosto de 2009. Por vezes faziam selfies postadas no Facebook e no MySpace usando roupas, jóias e relógios, todos produtos dos roubos que cometiam.
O seriado documental da Netflix, Bling Ring: A História Por Trás dos Roubos, revive a saga surpreendente desses adolescentes de mente e expectativa de vida deturpadas que conseguiram por alguns minutos serem tão famosos quanto as celebridades que eles roubaram.
A história foi contada num artigo da revista Vanity Fair escrito por Nancy Jo Sales, The Suspects Wore Louboutins, publicado em 2010. Esse artigo serviu de inspiração para o roteiro do filme Bling Ring, a Gangue de Hollywood, lançado em 2013. Dirigido por Sofia Coppola o filme teve Emma Watson no papel de Nicky, personagem inspirado em Alexis Neiers. Retratada apenas parcialmente no filme, Alexis é uma das personagens mais inacreditáveis do caso e sua história é o que há de mais inédito no seriado da Netflix.
Criada nos sets de filmagem do seriado Friends, Alexis é filha de Mikel Neiers que foi diretor de fotografia da série. A mãe, Andrea Arlington, ex-modelo, se separou do pai quando ela e a irmã ainda eram crianças e, desde então, a família passou a levar uma vida bastante errática. Belíssima e não muito ligada aos estudos, a adolescente acabou se viciando em cocaína e oxycodona. Antes da Bling Ring havia participado de um filme, a comédia Frat Party, além de um videoclipe de Marilyn Manson. Na sequência ela se envolveu com Rachel Lee e Nick Prugo, os primeiros membros da Bling Ring.
Na semana em que Nick foi preso, ele confessou e delatou seus comparsas. Alexis estava gravando o piloto do reality show Pretty Wild, produzido pelo canal E!, o mesmo que levou as Kardashians ao estrelato. Não era pouca coisa e seria justamente o veículo que garantiria a saída de Alexis e sua família da linha da pobreza.
As produtoras do reality, Amber Mazzola e Gennifer Gardiner, fornecem os momentos mais enigmáticos do seriado. Enquanto estamos nos perguntando como a nossa sociedade chegou onde chegou, as duas, tal qual aves de rapina, riem das retratadas no reality, mãe e filha vivendo uma situação de prisão e julgamento de Alexis.
Na engrenagem do entretenimento os “jornalistas” de sites e revistas de fofocas, os papparazzi e os produtores de programas reality show são o fundo do poço da falta de princípios. Literalmente vivem da desgraça alheia. São os espíritos de porco que regem a orquestra de dramas do mundo das celebridades (e sub-celebridades), dramas esses muitas vezes fabricados, como as produtoras fazem questão de mostrar.
Apesar de revelar pouco além do que já havia sido noticiado sobre a Bling Ring, o seriado Bling Ring: A História Por Trás dos Roubos mostra a realidade torpe por trás da busca pela fama e os profissionais que lucram com a tragédia das pessoas que perseguem os mitos da celebridade e do luxo.
É uma boa oportunidade para ver ou rever o filme de Sofia Coppola que está em cartaz na plataforma HBOMax. Faz parte da trilha do filme o hit Super Rich Kids de Frank Ocean.