Cidade histórica preservada recebe a nata da intelectualidade com muita cachaça, festas e bons restaurantes
Jon Lee Anderson, da revista New Yorker, vem a Parati e fala sobre sua experiência como correspondente de guerra
Na próxima semana, de 6 a 10 de julho de 2005, acontece em Parati, no Rio de Janeiro, a FLIP – Festa Literária Internacional de Parati. A feira foi idealizada e é produzida por Liz Calder, fundadora da editora britânica Bloomsbury, que se inspirou em eventos como Hay-on-Wye, do País de Gales e feiras similares em Mântua, na Itália e em Edimburgo, na Escócia. Parati por si só é mais que um belo passeio. Pelas ruas e construções preservadas da época do Brasil Colônia, barzinhos e ótimos restaurantes repletos de gente interessante, além de lojinhas super simpáticas que vendem cerâmicas e objetos de decoração e design, tornam a cidade um ponto boêmio e ao mesmo tempo de sossego.
A feira está cada vez mais concorrida e os ingressos antecipados para a Tenda dos Autores, espaço onde os escritores debatem com participação do público, logo esgotaram. Ainda existem ingressos para a Tenda da Matriz, um espaço dividido em dois setores com ambiente climatizado, fones de ouvido, tradução silmultânea, poltronas e transmissão por um telão de todas as mesas da Tenda dos Autores. Alguns outros lugares da cidade também tinham telões no ano passado, provavelmente este ano devem oferecer o mesmo serviço. Além da programação oficial de mesas redondas com autores brasileiros e estrangeiros, Parati na época da FLIP, tem uma programação Off FLIP com espetáculos, entrevistas e conversas informais em bares da cidade. Festas sempre acontecem e no ano passado a mais concorrida foi a de Rui Campos, sócio da Livraria da Travessa carioca. Vamos ver se ele repete o agito em 2005
Como nas edições anteriores o evento tem um grande escritor homenageado, além de mesas redondas com escritores brasileiros e estangeiros. Este ano a homenageada é Clarice Lispector (1920-1977), e no dia 6 acontece um espetáculo dirigido por Naum Alves de Souza e uma mesa redonda reunindo a escritora Marina Colasanti e os críticos Vilma Arêas e Benedito Nunes.
Salman Rushdie faz lançamento mundial do novo livro, Jabor e o rapper MV Bill debatem e o jornalista Jon Lee Anderson conta sua experiência como correspondente americano no Iraque
Ao todo a programação oficial oferece vinte mesas-redondas com 36 autores de 7 estados brasileiros e estrangeiros, representando 11 países. Entre os convidados está Salman Rushdie, que já esteve no Brasil há dois anos para a Bienal do Livro. O escritor anglo-indiano, jurado de morte pelo aiatolá Khomeini por ter publicado os Versos Satânicos, faz em Parati o lançamento mundial de seu mais novo romance, Shalimar, o equilibrista, que aborda o conlfito entre Índia e Paquistão e a situação na paradisíaca ilha de Cashemira.
Uma mesa redonda de escritores brasileiros promete ser a coqueluche do evento. No sábado de manhã reúnem-se na Tenda dos Autores o rapper MV Bill, o antropólogo Luís Eduardo Soares, do recém-lançado Cabeça de Porco, e Arnaldo Jabor, cronista e cineasta. Jô Soares vai a Parati na rota de lançamento de seu mais novo romance, Assassinato na Academia Brasileira de Letras e aproveita para debater com a pesquisadora Isabel Lustosa a situação da sátira nos dias de hoje.
A guerra e os conflitos políticos são tema recorrente na FLIP 2005. Jon Lee Anderson, correspondente da revista New Yorker no Iraque e o jornalista português Pedro Rosa Mendes, veterano na cobertura de conflitos na África, discutem o papel da reportagem em épocas turbulentas e até que ponto o jornalismo pode almejar à condição de gênero literário. Jon Lee Anderson esteve no Brasil anteriormente, em 1997, quando lançou a biografia de Che Guevara. Um dos jornalistas contemporâneos de maior prestígio internacional, o correspondente americano começou sua carreira no Peru e trabalhou na América Central, em Cuba e no Afeganistão, além do Iraque.
Outra presença ilustre, o escritor nordestino Ariano Suassuna vai apresentar uma de suas famosas aulas-espetáculo. Sua presença marca ainda os 50 anos de lançamento do Auto da Compadecida, um dos clássicos da dramaturgia brasileira contemporânea. E a literatura se fundindo em novos caminhos, aqueles do prazer, também está na pauta da FLIP 2005. O chef e jornalista americano Anthony Bourdain e a escritora britânica Jeanette Winterson vão discutir culinária e meio-ambiente.
Workshop de escritores, cabaret literário, música de câmara na igreja e exposição de pinga é contraponto à programação oficial
Simultaneamente à concorrida agenda de mesas redondas a FLIP oferece um workshop para escritores. A Oficina Veredas de Literatura abre espaço para jovens talentos brasileiros que participarão de aulas com Raimundo Carrero, ficcionista pernambucano que foi destaque na FLIP 2004 e que vai desenvolver o tema Os Segredos da Ficção a partir de textos de autores como Flaubert, Kerouac e Vargas Llosa. Carrero lança durante a FLIP um manual para novos escritores: Os segredos da ficção. Um guia na arte de escrever narrativas.
O Circuito Paralelo de Idéias Off Flip abre espaço para pessoas ligadas ao circuito artístico e cultural alternativo. No Teatro Espaço poetas convidados vão oferecer um workshop aberto ao público. Ainda na pauta um cabaret literário. No Silo Cultural, uma vila cenográfica, se pode assistir à produção artesanal da farinha de mandioca e da tapioca. E no bar O Café tem a Expo Pinga, com exposição de rótulos de cachaças de Parati e degustação do produto. Bom lembrar que Parati tem alguns dos melhores alambiques de cachaça brasileira, no perca inclusive o licor de cachaça. Para os menos mundanos um momento de reflexão e meditação na Igreja de Santa Rita pode ser mais elevado ainda com musica de câmara dos séculos 17, 18 e 19 a cargo do grupo Engenho Musical. Pra completar o momento divino Frido Mann lê textos de Júlia e Thomas Mann, seu ilustre parente.