Mostra exibe mais de 140 obras do artista paulista
Está em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro a primeira retrospectiva de Luiz Zerbini, Paisagens Ruminadas. A mostra fica no CCBB RJ até 2 de setembro com um apanhado da carreira do artista, ocupando todo o primeiro andar do edifício no Centro da cidade.
Paisagens Ruminadas exibe trabalhos de várias fases, criados em quase 50 anos de trajetória. São cinco núcleos temáticos, 140 obras, algumas inéditas, incluindo uma instalação criada especialmente para o espaço. A curadoria é de Clarissa Diniz.
Luiz Zerbini vem experimentando com diferentes linguagens e mídias e a paisagem é onipresente em seu trabalho. Além de artista plástico, Zerbini faz parte do Chelpa Ferro, coletivo de experimentações sonoras do qual fazem parte também os artistas Barrão e Sergio Mekler.
A mostra segue para o CCBB Brasília no segundo semestre.
Paisagens Ruminadas percorre alguns dos caminhos da voluptuosa e fascinante paisagística de Luiz Zerbini. Ao reunir obras de várias décadas e apresentar esculturas, objetos, monotipias, instalações e vídeos, a exposição matiza o já conhecido protagonismo de sua pintura, convidando os visitantes a observarem como a ruminação tem sido o principal método de criação desse artista que desde cedo vem mastigando, digerindo, regurgitando e novamente devorando suas próprias referências, signos, composições, perspectivas, narrativas, formas, cores, padronagens, imagens
Clarissa Diniz, curadora da retrospectiva
Paisagens Ruminadas – Luiz Zerbini
De quarta a segunda, das 9h às 20h
CCBB RJ –
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro / RJ
Tel: (21) 3808-2020 | email: ccbbrio@bb.com.br
Até 2 de setembro de 2024
Entrada gratuita. Retire seu ingresso no site oficial do CCBB do Rio de Janeiro
Saiba mais sobre a mostra:
O artista
Luiz Zerbini nasceu em São Paulo, em 1959. Iniciou sua atividade artística no final dos anos 1970. Expoente da chamada Geração 80, é conhecido por fazer pinturas em grande escala de colorido exuberante, em geral figurativas e com incursões no abstracionismo geométrico. Suas composições incluem a paisagem e as formas da natureza. Sua obra transita entre a pintura, a escultura, a instalação, a fotografia, a produção de textos e vídeos. É um dos integrantes do grupo Chelpa Ferro.
Entre as exposições recentes, destacam-se: Siamo Foresta, Triennale Milano, Milão (2023); Dry River, Sikkema Jenkins & Co, New York (2022); A mesma história nunca é a mesma, MASP, São Paulo, Brasil (2022); Fire, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2020); Nous Les Arbres, Fondation Cartier, Paris (2019); Intuitive Ratio, South London Gallery, Londres (2018); Dreaming Awake, House for Contemporary Culture, Maastricht (2018); Luiz Zerbini, Stephen Friedman Gallery, Londres, Reino Unido (2017); Perhappiness, Sikkema Jenkins & Co, New York (2016); Natureza Espiritual da Realidade, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo (2015); Pinturas, Casa Daros, Rio de Janeiro (2014); amor lugar comum, Centro de Arte Contemporânea Inhotim (2013); Amor, MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, (2012); dentre outras.
A exposição
As 140 obras em vários suportes (pintura, instalação, vídeos) da exposição dividem-se em cinco núcleos:
1 – “viver é ruminar paisagens”
O primeiro núcleo da mostra tem a intenção de afirmar a centralidade da paisagem para a prática artística de Luiz Zerbini. Sua paisagística não se restringe à pintura ou a linguagens específicas, mas constitui um método e criação e de experimentação que, tanto na arte quanto na vida, tem atravessado seus quase 50 anos de trabalho. Um dos destaques deste núcleo é a obra de dimensões monumentais (250 x 394 cm) High Definition (2009), que marca o retorno de Zerbini às pinturas figurativas depois de alguns anos dedicados ao trabalho com o grupo Chelpa Ferro.
2 – “o lugar de existência de cada coisa”
Reúne obras que apresentam algumas das estratégias de Zerbini para forjar os “lugares de existência” de sua obra, combinando as tradições naturalistas da representação da paisagem com o interesse pela fabulação, pela memória, pela alegorização, pelo onírico, pelo poético. Neste núcleo, são apresentados objetos que estão presentes nas pinturas, explorando a ideia de “o lugar de existência de cada coisa”, também no espaço expositivo, como em Mesa Mar (2017).
O núcleo também aponta para a sensação de vertigem que emerge quando as coisas parecem fora de seus lugares de existência, transformadas em espectros ou fragmentos de si mesmas. Emerge, daí, também uma reflexão sobre a morte e o luto.
3 – “da natureza alegórica da paisagem: Massacre de Haximu e Primeira Missa”
Na última década, a ruminação que caracteriza a alegórica paisagística de Luiz Zerbini revelou sua vocação histórica, dando luz a pinturas que releem o Brasil e suas representações artístico-políticas. Nessa direção, o artista tem combinado signos e personagens em grandes paisagens alegóricas que revisitam a historicidade para, através da fabulação crítica, refazer leituras históricas e avivar memórias de resistência e insurgência. Desse exercício têm emergido obras que confrontam iconograficamente as narrativas oficiais do país, as quais comumente apagam as memórias da violência social que caracteriza a constituição colonial da nação. O terceiro núcleo da exposição destaca duas dessas obras – Massacre de Haximu (2020) e Primeira Missa (2014) –, navegando por entre sua alegorização para nelas revelar as ruminações histórico-artísticas de Zerbini.
4 – “eu paisagem”
A paisagística de Luiz Zerbini não alimenta a cartesiana separação entre o eu e o outro, a natureza e a cultura, o ponto de vista e o ponto de fuga. O quarto núcleo da mostra apresenta obras que, assim como eu paisagem (1998), exploram as implicações entre ‘retratado e retratante’ ou ‘o sujeito e a cena’, reconhecendo que a subjetivação é inerente aos territórios, aos objetos, às plantas, ao acaso, ao vazio, etc.
Como Paisagem Inútil (2020), este núcleo também ambienta obras que investigam os esquemas formais e ontológicos de estruturas gráficas não-ocidentais que, como os kenes Huni Kuin ou os tecidos com o Batik da Indonésia, elaboram estéticas vinculadas a cosmovisões que concebem o mundo sem a separação cartesiana da qual, na Europa de séculos atrás, emergiu a ideia de “paisagem”.
5 – “não é só sobre o que se vê”
Como escreve num poema do livro Rasura, para Zerbini, uma obra visual “não é só sobre o que se está vendo”, mas é também sobre “o que se pensa quando se está sentindo o que se está ouvindo quando se está vendo”. O último núcleo da exposição traz obras cuja inscrição paisagística se estende para além das referências visuais, acionando leituras sonoras, espaciais, rítmicas ou vibráteis. Em Miragem (2004), composta num momento em que Zerbini vinha trabalhando intensamente junto ao Chelpa Ferro, é possível ver como o artista articula alguns de seus principais interesses da época: a paisagem, a geometria e a sonoridade/musicalidade.
A curadora
Clarissa Diniz é curadora, escritora e educadora em arte. Graduada em artes pela UFPE, mestre em história da arte pela UERJ e doutoranda em antropologia pela UFRJ. É professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Além de alguns livros publicados, tem textos incluídos revistas e coletâneas sobre arte e crítica de arte, a exemplo de Criação e Crítica – Seminários Internacionais Museu da Vale (2009); Artes Visuais – coleção ensaios brasileiros contemporâneos (Funarte, 2017); Arte, censura, liberdade (Cobogó, 2018); Amérique Latine: arts et combats (Artpress, março 2020). Desenvolve curadorias desde 2008 e, entre 2013 e 2018, atuou no Museu de Arte do Rio – MAR, onde realizou projetos como Do Valongo à Favela: imaginário e periferia (cocuradoria com Rafael Cardoso, 2014); Pernambuco Experimental (2014) e Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena (cocuradoria com Sandra Benites, Pablo Lafuente e José Ribamar Bessa, 2017). Em 2019, organizou a mostra À Nordeste (cocuradoria com Bitu Cassundé e Marcelo Campos. Sesc 24 de Maio, São Paulo) e, em 2022, integrou a curadoria das exposições Histórias Brasileiras (MASP, São Paulo) e Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil (Sesc 24 de Maio, São Paulo)