Um movimento que virou uma febre no exterior e também no Brasil é a Toy Art, ou Designer Toys ou ainda Urban Vinyl, brinquedos feitos de plástico, vinyl ou pano principalmente, mas também em madeira, metal ou resina. Os toy art são projetados por artistas plásticos, ilustradores, quadrinistas, grafiteiros ou designers de moda. A febre começou entre os colecionadores de brinquedo e os colecionadores de arte e hoje é uma tendência de consumo. Os brinquedinhos, bonequinhos coloridos com os mais variados temas, variam de tamanho entre cinco e vinte centímetros em média, mas existem versões em tamanhos bem grandes. Não há preocupação com maleabilidade ou qualquer outra utilidade da Toy Art além de ser um deleite para divertir.
Quando surgiram os Art Toys?
Em meados dos anos 90 grifes de streetwear japonesas como Bounty Hunter e A Bathing Ape começaram a fabricar bonecos originais como material promocional de suas roupas. Ao mesmo tempo colecionadores de brinquedos japoneses e lojas de brinquedos colecionáveis começaram a organizar convenções. Michael Lau e Eric So, artistas plásticos de Hong Kong que já criavam toys para grifes streetwear, começaram a fazer seus toys originais para apresentar nessas convenções. Os toys eram baseados em quadrinhos criados por eles. Logo depois essas mesmas lojas se transformaram em fabricantes de Toy Art e vendedores por atacado. São nomes como Toy2R, Flying Cat e Red Magic que foram financiando a produção dos primeiros designer toys na Ásia. Daí a coisa pegou e se alastrou mundo afora, com lojas de Toy Art e Urban Vinyl aparecendo em todas as grandes cidades do mundo e galerias de arte exibindo as pequenas esculturas em plástico e vinyl.
Nos Estados Unidos a Kidrobot, a Toy Tokyo e a Strangeco passaram a produzir e vender os cobiçados brinquedinhos de adulto. A Cerealart, de um colecionador de arte, passou a produzir Toy Art de artistas consagrados. Um Toy Art pode ser totalmente projetado por um artista, ou pode ser um boneco customizado, como as diversas séries de Munnys, Dunnys, Ci boys, Be@rbricks e Kubricks. Estes bonecos também são vendidos sem nenhuma pintura, para serem customizados pelo próprio comprador: são os toys DIY, de “do it yourself” ou “faça você mesmo”.
Intersecção entre arte high e low
Alguns podem argumentar que o artista plástico americano Jeff Koons já fazia toy art nos anos 80, como por exemplo sua escultura “Rabbit”, um coelho metalizado parecendo um balão, que ganhou prêmios no mundo todo e ficou conhecido em todos os hemisférios. Pode também ser considerado um precursor o japonês Takashi Murakami, com suas esculturas inspiradas em personagens de manga japonês, nos anos 90. O conceito pode ter inspiração também nos múltiplos de Joseph Beuys que dizia: “Os múltiplos me interessam porque a multiplicação de idéias me interessa”. Múltiplos são obras de Joseph Beuys que ele criou sobre objetos do cotidiano como cinzeiros, pratos, etc. Andy Warhol deve estar revirando na tumba por não estar presente para poder criar sua própria Toy Art e também alavancar talentos, como fez com o graffiti. Ídem para Jean Michel Basquiat e Keith Harring.
Kenny Scharf, que como Basquiat e Haring é artista consagrado que veio do graffiti, já tem suas criações em Toy Art, bem como o próprio Takashi Murakami e o ilustrador, cartunista e cineasta de animação americano Gary Baseman.
Urban Vinyl é o toy que tem inspiração na cultura das ruas
O Urban Vinyl verdadeiro, no entanto, é criado por artistas desconhecidos, que vêm das áreas “lowbrow” de ilustração, streetwear, graffiti, publicidade, quadrinhos, manga e cartoon. Estes artistas têm criado a maioria das peças que são cultuadas e disputadas em leilões e exibidas em galerias e museus por toda parte. É a intersecção completa entre arte e cultura das ruas onde artistas plásticos consagrados criam e vendem peças a preços populares e designers desconhecidos passam a exibir peças em galerias de arte. Os grandes nomes da Toy Art hoje são: Michael Lau, Eric So, Kaws, Nathan Jurevicious, Frank Kozik, Dalek, Yoshitomo Nara, Pete Fowler, Gary Baseman e coletivos como Touma, Superdeux, Amos Novelties e Friends With You.
Enfim, o fato é que hoje um punhado de pessoas pelo mundo tem criado belíssimas esculturas que são acessíveis ao público em geral, ainda que produzidas em edições limitadas. Cada toy tem tiragem de no máximo cinco mil peças, mas a maioria tem tiragem entre quatrocentas e mil peças. Há quem argumente que a tendência é que os toys passem a ser fabricados em massa, por grandes indústrias de brinquedos, já que a atividade é hoje uma forte tendência de consumo. É possível, mas por enquanto a febre é uma subcultura que envolve um público jovem, ávido por novidades e que compra seus toys principalmente em sites de venda exclusiva pela internet e em lojas especializadas, principalmente em N.York, Tóquio e Hong Kong.
Designers de moda foram convidados a customizar Toy Art
Em 2004 a revista que é bíblia de estilo, a Visionaire, lançou nos números 44 e 45, linhas de Toy Art customizados por grandes nomes da moda mundial como Karl Lagerfeld, Marc Jacobs, Miuccia Prada, Alexander MacQueen entre outros. É quando os bonecos de Toy Art deixam de ser objetos essencialmente de cultura urbana para integrar também o universo da alta moda. Em 2006 a Visionaire lançou outro set, o terceiro, na edição comemorativa de número 50. São Art Toys customizados por artistas como Alex Katz, o cartunista R.Crumb e o escritor Kurt Vonnegut, falecido em abril último. Seguindo a iniciativa da Visionaire a loja multi-marcas Colette de Paris já organizou exposições de Toy Art e tem sua própria linha de toys customizados por artistas convidados, que são vendidos nos sites de Toy Art mais conhecidos como Kidrobot, myplasticheart e Toy Tokyo. O coletivo de moda Heatherette também já criou sua coleção de Art Toys, produzida pela Kidrobot. Os Art Toys também podem ser encontrados em lojas de galerias e museus. A Cerealart vendia também pelo seu site peças de Kenny Scharf, Takashi Murakami, Dalek e Yoshitomo Nara.
Toy Art no Brasil
No Brasil a febre da Toy Art está se alastrando. A artista baiana Andrea May é um dos nomes precursores da Toy Art brasileira. Ela tem seus toys vendidos em várias cidades do Brasil e um blog, o Toy Centro, que aglutina vários artistas brasileiros dessa nova mídia. Em 2006 a galeria Melissa em São Paulo promoveu a Mocotoy, primeira exposição de Toy Art brasileira,onde os toys eram em sua maioria confeccionados em pano e de maneira totalmente artesanal.