Nicolas Bourriaud


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Um dos maiores teóricos da arte contemporânea faz palestras no Rio de Janeiro hoje e amanhã

Quem se interessa pelos novos rumos da arte contemporânea no mundo não pode perder este fim de semana no Rio de Janeiro uma das palestras do teórico e curador francês Nicolas Bourriaud. Na PUC, na sexta às 16 horas, ele fala sobre o tema Escolas de Arte no Século XXI (sala F201A – 65 lugares). No sábado, no auditório da Cinemateca do MAM às 16 horas, Borriaud fala sobre os temas tratados em seu livro Radicante, Por Uma Estética da Globalização. As duas palestras vão ser feitas em inglês, sem tradução e no MAM o artista plástico carioca Roberto Cabot vai debater com o teórico francês.

Mais conhecido por suas publicações Estética Relacional (1998) e Pós-Produção – Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo (2001) O curador e teórico das artes Nicolas Bourriaud levanta questões sobre os verdadeiros interesses da arte contemporânea, suas relações com a sociedade, a história, a cultura e a globalização. O termo estética relacional acabou por se tornar um movimento forte nos anos 90 e 2000, apesar do próprio criador rechaçar essa definição. No entanto vários artistas contemporâneos seguem as diretrizes da teoria formulada por Borriaud onde, através de performances e instalações mostram relações que enfatizam o diálogo e a negociação.

Os relacionais deixam lacunas que devem ser preenchidas pelo público. O tailandês Rirkrit Tiravanija, que tem obras no acervo permanente do museu Inhotim, em Minas Gerais, ficou conhecido pela instalação/performance Untitled 1992 em que ele cozinha um macarrão pad-thai para vinte pessoas e deixa os pratos e panelas em exposição. Para os relacionais é importante a interação, o público deve deixar sua contribuição, relacionar-se com a obra e com os outros espectadores.

O conceito da teoria relacional, principalmente se explicado por Borriaud, pode parecer extremamente complicado, mas é muito simples. Artistas de posicionamento de esquerda, contra a sociedade de consumo, criticam o medo das relações pessoais. Num mundo extremamente conectado, onde a internet e o progresso dos meios de transportes o tornaram um espaço cada vez mais fácil de percorrer, as pessoas vivem relações virtuais, pois têm medo do relacionamento mais simples, da comunicação, do corpo a corpo.

Carsten Höller, um dos (poucos) artistas internacionais convidados para a 28a Bienal de São Paulo, em 2008 e que recentemente teve uma grande retrospectiva montada em N.York no New Museum, é um bom exemplo de artista que segue os preceitos da estética relacional. Sua marca registrada são os escorregadores, estilo tobogã, que o público deve experimentar.

Apesar da estética relacional ser considerada uma das melhores e mais bem fundamentadas teorias da arte contemporânea, Bourriaud já criou outra corrente com a qual ele pretende jogar uma pá de cal no pós-modernismo, a teoria altermodern. Para tanto foi chamado para ser o curador da quarta trienal do museu londrino Tate Britain, em 2009.

A mostra Altermodern da Tate foi duramente criticada pela imprensa britânica que a considerou enfadonha e pretensiosa, com uma proposição teórica mais forte que os trabalhos em si. No entanto o mundo das artes clama por vanguarda e é isso que essa teoria vem propor: um universalismo calcado na globalização das artes. Talvez o problema da trienal tenha sido a necessidade de mostrar trabalhos de artistas do Reino Unido principalmente, já que foi realizada num museu de arte britânica, quando a proposta da mostra é justamente a globalização.

Colecionadores como Charles Saatchi já estão se dedicando à arte de fora do eixo cultural da Europa e Estados Unidos. A arte brasileira hoje é reverenciada no mundo todo. A exposição de Cildo Meireles na Tate Modern em 2008 foi um grande sucesso de público. Obras de artistas brasileiros, como por exemplo Vik Muniz, Adriana Varejão e Beatriz Milhazes, têm sido vendidas a cifras milionárias em leilões internacionais. Várias mostras nos principais museus do mundo estão revelando a arte do oriente, principalmente da Índia, do Oriente Médio e da China.

Na verdade o conceito de altermodern nada mais é do que um desdobramento da estética relacional. Bourriaud pode parecer erudito demais mas não fala mais que o óbvio. Tomando como ponto de partida a revolução digital, nossa sociedade é pautada pela conectividade, em função de atualizações constantes e híbridos culturais. O conhecimento hoje não é linear e a informação é aleatória em termos de tempo e espaço. Os pólos de pensamento se deslocam dos centros que dominaram o século XX, como Paris, Londres ou N.York e agora podem acontecer em qualquer lugar, ou em nenhum, ou seja, apenas no espaço virtual cibernético.

O que Bourriaud deixa de fora em seu discurso, no entanto, são os limites de classe que ainda existem, como entre a arte erudita (high art) e a arte da cultura de massa e da contracultura (lowbrow) que independe de instituições ou museus, como o graffiti, a pichação, o pop surrealismo, estilo que tem sido adotado por ilustradores e cartunistas, o yarn bombing e a toy art, entre outras formas de arte marginais ou subculturas.

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